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A Intervenção da Fisioterapia no Tratamento da Aracnoidite Aguda: Relato de Caso Imprimir E-mail
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Trabalho realizado por:
Juliana Savi


Fisioterapeuta formada pela Universidade Paranaense - UNIPAR
Pós-graduanda do Curso de Terapia Manual e Postural pelo Centro Universitário de Maringá - CESUMAR 

Contato: ju.savi@hotmail.com


RESUMO

A lesão medular tem sido identificada como uma incapacidade de alto custo, que exige tremendas alterações no estilo de vida do paciente. A transecção da medula irá resultar na perda da capacidade motora, sensibilidade superficial e profunda, controle vasomotor, controle intestinal e da bexiga e função sexual.

O aumento da expectativa de vida desses indivíduos fez com que o processo de reabilitação fosse para além da prevenção dos danos causados pela lesão medular, e objetivasse também a melhora da qualidade de vida e a independência funcional. A inatividade após lesão medular causa uma diminuição da massa muscular e da capacidade aeróbica, uma condição osteoporótica e disfunção renal, e além disso, coloca o indivíduo em risco de doenças cardíacas e conseqüentemente reduz sua expectativa de vida.

Diversos autores evidenciaram os benefícios da atividade física e da fisioterapia em indivíduos com lesão medular, e observou-se uma melhora da força muscular; diminuição das reações psicológicas negativas como a depressão, inatividade mental e isolamento social; melhora da independência nas atividades de vida diária; facilitação para a integração social; diminuição de complicações como infecção do trato urinário, escaras e hospitalizações.

No presente estudo será relatada a evolução de um paciente com diagnóstico clínico de lesão medular por aracnoidite e fisioterapêutico de paraplegia.

 

Palavras-chaves: lesão da medula espinhal, aracnoidite, paraplegia, reabilitação, fisioterapia.

 

1- DEFINIÇÃO

Para FILHO (2001), as funções básicas do sistema nervoso são a motricidade e a sensibilidade que, associadas, vão determinar a missão essencial do sistema nervoso, que é adaptar o ser vivo ao meio ambiente. O sistema nervoso é responsável pelo controle das atividades como a contração muscular e fenômenos viscerais. Recebe milhares de informações de diferentes órgãos sensoriais, integrando-se para determinar uma resposta a ser executada pelo organismo. Conforme a evolução da espécie e aumento das exigências funcionais, o sistema nervoso também se torna mais eficiente, com respostas mais complexas e perfeitas.

A medula espinhal (ME) conduz impulsos para o encéfalo e impulsos que dele se originam. As várias vias aferentes e eferentes proporcionam um elo vital no controle do sistema nervoso autônomo, portanto a lesão da medula irá resultar na perda da capacidade motora, sensibilidade superficial e profunda, controle vasomotor, controle intestinal e da bexiga e função sexual (Bromley, 1997 apud SALVADOR & TARNHOVI, 2004).

A lesão da medula espinhal é uma condição que coloca a vida em risco, tem início súbito e pode ter consequências devastadoras. Danifica uma rede neural complexa implicada na transmissão, modificação e coordenação motora e sensorial, e no controle autônomo dos sistemas e órgãos (STOKES, 2000).

Os termos usados para descrever pacientes com lesão medular, indicam o nível geral da lesão de coluna vertebral e da perda de função:

  • Paraplegia: refere-se à deficiência ou perda de função motora e/ou sensorial dos segmentos torácico, lombar ou sacral da medula espinhal. A função dos membros superiores é preservada, mas o tronco, os membros inferiores e os órgãos pélvicos podem ficar comprometidos.

  • Tetraplegia: os pacientes tetraplégicos têm deficiência ou perda de função motora e/ou sensorial nos segmentos cervicais da medula espinhal. Os membros superiores são afetados, assim como o tronco, os membros inferiores e os órgãos pélvicos. O termo não inclui lesão no plexo braquial ou nos nervos periféricos (STOKES, 2000).

A paraplegia é a paralisia completa de ambas as extremidades inferiores e de todo ou parte do tronco, como resultado do dano à medula espinhal torácica, lombar ou de raízes sacrais (Bromley, 1997 apud SALVADOR & TARNHOVI, 2004).

As lesões medulares em níveis torácicos preservam a função dos membros superiores, deixando os pacientes com potencial de se tornarem independentes nas atividades de vida diária, tais como transferências, mudanças de posicionamento, manejo da cadeira de rodas e até para dirigir carros adaptados (Ares e Casalis, 2001 apud SALVADOR & TARNHOVI, 2004).

Já ao nível de T6 a T12, temos preservação dos músculos extensores superiores do dorso, abdominais e paravertebrais, portanto se tem um maior controle do tronco. Nesse nível, o paciente tem como objetivos funcionais principais, a independência total em AVD's, transferência e locomoção na cadeira de rodas; ortostatismo com órteses; marcha funcional em ambientes curtos; sem restrições para dirigir automóveis adaptados (Greve e Castro, 2001 apud SALVADOR & TARNHOVI, 2004).

Para GANEM et al., (2002), a aracnoidite adesiva é uma das complicações mais graves da anestesia subaracnóidea. Consiste na diminuição de força muscular e alteração de sensibilidade nos membros inferiores e no períneo, acompanhadas por alterações vesicais e intestinais. O quadro inicia-se lentamente, alguns dias ou semanas após a realização do bloqueio, podendo levar à paraplegia completa e, em alguns casos, à morte.

Existe reação proliferativa das leptomeninges, com obliteração do espaço subaracnóideo em decorrência da formação de trabéculas, levando à deformidade das raízes nervosas e constrição da medula espinhal. Por obstruir o fluxo normal de líquor, a pressão intracraniana pode se elevar; entretanto, é o comprometimento do suprimento sangüíneo da medula espinhal e das raízes nervosas, o principal responsável pelas alterações neurológicas encontradas (GANEM et al., 2002).

O autor acrescenta ainda, que existem fatores de risco que contribuem para o aparecimento das alterações neurológicas, dentre os quais a isquemia da medula espinhal (secundária ao uso de vasoconstritores e à hipotensão arterial prolongada), a lesão das raízes nervosas durante a introdução da agulha de cateter, as infecções e a própria solução de anestésico local escolhida. Os principais fatores etiológicos são: a adição ao anestésico local de substâncias com a finalidade de alterar a gravidade específica da solução, como álcool e acácia, a contaminação do material utilizado na anestesia com anti-sépticos e detergentes e a presença de antioxidantes (bissulfito) na solução.

As complicações neurológicas desencadeadas pela anestesia subaracnóidea são raras. Estudos publicados antes da década de 70, com levantamento totalizando mais de 50.000 anestesias raquidianas, mostraram que a incidência de alterações neurológicas sensitivas, como adormecimentos ou parestesias, variou de 0% a 0,7%, enquanto os déficits motores variaram de 0,005% a 0,02% (GANEM et al., 2002).

Estudo prospectivo realizado na França constatou que a incidência de complicações neurológicas relacionadas à anestesia subaracnóidea foi de 6/10.000 anestesias. Os principais fatores etiológicos desencadeantes de lesões foram: o trauma ocasionado pela agulha de punção e a neurotoxicidade do anestésico local. Vários fatores estão relacionados à etiologia dessas neuropatias, como injeções intraneurais de anestésico local, contaminação de seringas com detergentes e anti-sépticos, oxidantes contidos na preparação comercial do anestésico local, e altas concentrações de anestésico local sobre o tecido nervoso (GANEM et al., 2000).

As alterações musculoesqueléticas que ocorrem nesses indivíduos também estão relacionadas com perda ou diminuição funcional, que vão refletir no metabolismo basal, função renal, cardíaca e pulmonar, causando o acúmulo de doenças crônicas como a diabetes, hipertensão, osteoporose e obesidade (Silva, 2003 apud SALVADOR & TARNHOVI, 2004).

Para STOKES (2000), o tratamento de uma pessoa com lesão de medula espinhal é complexo e para o resto da vida. Um programa multiprofissional de reabilitação funcional orientado para as metas possibilita que o paciente com lesão de medula espinhal viva de maneira mais completa e independente possível.

O presente estudo teve como objetivo analisar a evolução de um paciente com diagnóstico fisioterapêutico de paraplegia, apresentando alterações motoras e sensitivas significativas.

 

2- O CASO

 Paciente S.S.R.L., 52 anos, sexo feminino, raça branca, residente na cidade de Umuarama - PR, apresentou-se com diagnóstico clínico de Lesão Medular por Aracnoidite e diagnóstico fisioterapêutico de Paraplegia.

 A paciente foi avaliada no dia 06/04/2005, através da Ficha de Avaliação Fisioterápica do Paciente Adulto Portador de Lesão Medular, do Departamento de Fisioterapia da Universidade Paranaense – UNIPAR, do Campus Sede – Umuarama.

Na avaliação, a paciente apresentou-se lúcida, consciente, conversando, fazendo uso de cadeira de rodas (comum), sem auxílio de acompanhante para a propulsão da mesma (toca cadeira sozinha).

Na anamnese, a mesma relatou que há 30 anos sofreu uma intervenção cirúrgica (parto cesariana), e em decorrência de uma iatrogenia ocorrida durante a aplicação da anestesia raquimedular, (onde a agulha foi introduzida além do espaço correto), foi causada uma perfuração na aracnóide (meninge), o que levou anos após, o aparecimento do quadro de aracnoidite. Os sintomas vieram a aparecer 11 (onze) anos depois, subitamente, sem que pudessem ter sido notados sinais anteriores de lesão medular. No ano de 1993, foi realizada a primeira cirurgia para a drenagem de líquido excedente da aracnóide; outras intervenções cirúrgicas com o mesmo objetivo foram realizadas mais tarde, nos anos de 1998, 2000 e a mais recente delas, em novembro de 2004; todas elas feitas no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília. A paciente relata, que após as cirurgias apresenta melhora do quadro, voltando a apresentar marcha, porém a última delas ainda não demonstrou resultados satisfatórios para a deambulação.

Realiza fisioterapia desde o início dos sintomas mais graves, há aproximadamente 10/11 anos. Faz uso do medicamento Sirdalude (relaxante muscular). As funções neurovegetativas no dia da avaliação foram: PA - 120 x 80 mmHg; FC - 88 bpm; FR - 16 rpm. Aos testes de força muscular, a paciente apresentou sinais motores ao nível de L3 (extensores de joelho), sendo as funções do diafragma (presente e bom), intercostais (presente e regular) e abdominais (presente e fraco). Aos testes de sensibilidade superficial, a paciente apresentou sinais sensitivos ao nível de L4, com alteração da sensibilidade profunda e pequena confusão durante a testagem da sensibilidade dolorosa.

Apresenta pele de aspecto e coloração normais; atrofia generalizada em MMII, mais evidente em região de panturrilha (tríceps sural); hipertonia em MMII, com presença de clônus em ambos os membros, mais evidente em MID; apresenta ainda, Sinal de Babinski e espasmo extensor em ambos os membros; entretanto, não apresentou a tríplice flexão.

Os reflexos axiais da face, biciptal e triciptal encontram-se presentes e normais, e os reflexos patelar e aquileu estão presentes com hiperreflexia em ambos os MMII, sendo mais evidente em MID.

A amplitude de movimento apresentou-se normal em todas as articulações testadas.

A paciente é independente para alimentação, vestuário em MMSS, MMII e tronco, realiza a higiene da face, MMSS, MMII e tronco sozinha; tendo sido classificada como semi-independente para a realização das AVD's.

Faz uso de cadeira de banho apropriada e cadeira de rodas adequada e comum; impulsiona cadeira em terrenos planos, irregulares, por curtas e longas distâncias e em rampas.

Realiza as transferências da cama para a cadeira de rodas, da cadeira de rodas para a cadeira de banho, do carro para a cadeira, entre outras.

No treino funcional foi observado que a paciente é capaz de rolar (DD para DV e vice-versa) com dissociação de cinturas e apóia-se nos cotovelos quando em DV; de DD para sentado, apóia-se nos cotovelos e nas mãos, cruza as pernas com ajuda de um dos MMSS e senta (apresenta pequeno controle de tronco, sendo incapaz de permanecer sentada sem o apoio dos MMSS); não realiza as transferências de sentado para ajoelhado, ajoelhado para semi-ajoelhado e semi-ajoelhado para em pé.

 

3- MATERIAIS E MÉTODOS

Os materiais utilizados na avaliação foram:

  • Estetoscópio;

  • Esfigmomanômetro;

  • Martelo de reflexos neurológicos;

  • Relógio de pulso;

  • Chumaço de algodão;

  • Pincel para testes sensitivos;

  • Agulha para testes sensitivos;

  • Copo contendo água gelada;

  • Copo contendo café quente.

 

Os materiais utilizados no tratamento foram:

  • Tablado;

  • Travesseiros;

  • Bolas suíças de diferentes tamanhos;

  • Degraus de madeira;

  • Bola de borracha pequena (tipo Dente de Leite);

  • Halteres;

  • Órtese longa para MMII;

  • Barra paralela;

  • Prancha Ortostática.

 

A paciente foi submetida a 14 (quatorze) atendimentos, sendo 3 (três) deles destinados à avaliação inicial, logo após, foi submetida e 11 (onze) tratamentos, realizados individualmente, com duração de aproximadamente 90 minutos cada (sendo 50 minutos de atendimento individual no tablado e barra e trinta minutos em média de ortostatismo na prancha), 3 (três) vezes por semana, sendo que ao início e ao final de cada sessão foi aferida a PA. Durante as sessões de tratamento, a paciente foi observada constantemente.

 

Os objetivos de tratamento traçados para esta paciente foram:

  • Adequação do tônus muscular;

  • Manter a ADM existente;

  • Ganho de FM, principalmente em MMSS;

  • Treino de equilíbrio e reações posturais;

  • Treino das posturas neuroevolutivas;

  • Treino das reações de retificação, proteção e endireitamento;

  • Treino de transferências;

  • Descarga de peso (principalmente em MMII);

  • Co-contração em tronco;

  • Fortalecimento de MMSS (principalmente tríceps braquial);

  • Melhora das funções viscerais através do ortostatismo;

  • Prevenção de deformidades, escaras e tromboembolismos.

 

A conduta realizada atendeu aos objetivos pré-estabelecidos e constou de:

  • Dissociação de cinturas (escapular e pélvica), com a paciente em DL (feito em ambos os lados);

  • Mobilização de escápulas e gleno-umeral, estando a paciente em DL sobre o tablado (feito em ambos os lados);

  • Diagonal de Kabat (feita em escápulas em ambos os lados);

  • Mobilização de quadril, com a paciente em DD, os MMII sobre as pernas do fisioterapeuta que está sentado na bola suíça;

  • Mobilização de quadril, com a paciente em DD, os MMII sobre uma bola suíça e uma bola de borracha pequena (tipo Dente de Leite) na região do sacro, a paciente deve deslizar a pelve para um lado e após o outro (repetido várias vezes);

  • Treino de força muscular em MMII (flexores e extensores de quadril e joelhos), estando a paciente em DD, um dos MMII fletidos e em apoio no tablado e o outro sobre a bola suíça, a paciente flete o quadril e o joelho trazendo a bola próximo ao tronco e após faz extensão de quadril e joelho afastando a bola - exercício ativo-assistido (feito em ambos os lados);

  • Treino de força muscular, estando a paciente em DD, fazer a ponte com o auxílio da bola suíça, o fisioterapeuta estabiliza os MMII sobre a bola para facilitar a realização do exercício;

  • Diagonal de Kabat para MMII (feito em ambos os lados);

  • Treino de posturas neuroevolutivas - de DD para sentado e vice-versa; DV para DD e sentado;

  • Treino de transferência de peso com a paciente sentada e em DV com os cotovelos estendidos, as mãos abertas e sobre os degraus de madeira, transferir o peso para ambos os lados e manter-se na posição por alguns segundos;

  • Fortalecimento de tríceps, estando a paciente em DV, deve elevar o tronco com os MMSS, realizando extensão de cotovelos; nesta posição, foi ainda realizado co-contração em ombros e descarga de peso em ambos os lados - (feito várias vezes);

  • Ortostatismo na barra com o uso da órtese longa para MMII, e nesta posição foi realizada mobilização de cintura pélvica;

  • Ortostatismo na Prancha Ortostática, variando seu tempo de duração entre 20 e 40 minutos em diferentes angulações, por vezes associada a exercícios ativos-livres e resistidos para MMSS com uso de bolas de diferentes tamanhos e halteres variados.

  • Orientações: realizar o máximo de atividades e transferências sozinha; treinar o rolar e as posições em casa na cama, bem como o fortalecimento de MMSS que pode ser realizado em casa e durante as transferências principalmente.

 

4- DISCUSSÃO

 Foram observadas na paciente, perdas sensitivas e motoras; alterações no tônus muscular; dificuldades na realização de determinadas posturas neuroevolutivas e principalmente; alterações do trofismo e força muscular, mais acentuada em MMII.

STOKES (2000) relata, que a lesão da medula espinhal é uma condição que coloca a vida em risco, tem início súbito e que pode ter consequências devastadoras. O tratamento clínico inclui a conduta nos casos de trauma na fase aguda e na reabilitação, que é vitalícia. Os objetivos do tratamento são criar uma pessoa saudável que pode escolher seu próprio destino.

FILHO (2001) complementa, que uma lesão do sistema nervoso central que se traduza por um distúrbio da atividade motora, justifica um tratamento com finalidade de educação ou de reeducação do gesto. O processo envolvido é então neuro e psicomotor.

Uma articulação pode ser mobilizada, melhorando-se a inibição de sua cartilagem pela contração dos músculos maiores que a cruzam. Convém todavia, levar em conta o conjunto das contrações induzidas por essa atividade, escolher com precisão a posição dos segmentos, a intensidade da força e o tipo de deslocamento mais adaptado à situação. A preocupação aqui é somente de ordem biomecânica. Uma mobilização articular passiva provoca a emissão de mensagens de origem cápsulo-ligamentar que, tratadas no nível central, interagirão. Essas mensagens podem desempenhar um papel facilitador ou inibidor sobre a atividade de um músculo. (FILHO, 2001).

De acordo com CARRIÈRE (1999), a mobilização de quadril feita com a bola suíça tem como objetivos: facilitar a rotação de tronco e flexão/extensão do quadril em pacientes com tono elevado (espasticidade); dar impulsos proprioceptivos; diminuir a quantidade de peso que pacientes fracos precisam mover ou erguer; permitir amplitude passiva de movimento de quadris e joelhos em flexão/extensão e abdução/adução.

O exercício de flexão/extensão de quadril e joelhos feitos com o auxílio da bola suíça, facilita os exercícios de amplitude de movimento para pacientes acamados ou fracos; possibilita ao paciente enxergar suas pernas para apresentar feedback no caso de ter apenas traço de força muscular ou ausência de movimentos; possibilita ao terapeuta ou família serem capazes de mover a perna sem precisar erguê-la; promover retorno venoso em pacientes com edema/inchaço de uma ou ambas as pernas (CARRIÈRE, 1999).

O autor relata ainda, que o exercício depende da meta e da força do paciente. O terapeuta ou um familiar podem assistir ativamente a amplitude de movimento; o paciente fraco pode mover sua perna sem precisar erguê-la. A direção do movimento pode ser de flexão/extensão de quadril e joelho ou abdução/adução de quadris. O movimento da perna deve ser assistido pelo terapeuta ou familiar, de modo que a perna não "caia" da bola e deve ser lento o suficiente para que o paciente veja o movimento.

Segundo O’SULLIVAN & SCHIMITZ (1993), os exercícios de ponte promovem o fortalecimento da musculatura extensora do quadril; desenvolvem o controle em importantes tarefas funcionais como: controle pélvico, controle avançado do membro (extensão do quadril com flexão de joelho) e sustentação precoce de peso no membro inferior, e por esses motivos essas atividades foram incluídas na conduta fisioterápica em questão.

Para STOKES (2000), as técnicas de facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) foram desenvolvidas por Knott & Voss, a partir das observações de Kabat. Este verificou, que os padrões de movimento na população normal ocorrem em sequências espirais ou diagonais e sempre têm direção intencional. A chave da abordagem era a aplicação de resistência máxima em toda a amplitude de movimento, aplicando-se alongamento a grupos de músculos, ação sinérgica sobre mais de uma articulação e reforço por meio de contrações repetitivas, estabilizações rítmicas e inversões lentas.

Para a melhora da mobilização no leito, foi enfatizado o treino das passagens das posturas neuroevolutivas, de decúbito dorsal para sentado passando pela postura de decúbito lateral, como é realizado segundo CARR & SHEPHERD (1988), relatando que ao rolar para um lado, a cabeça deve fletir e rodar para o lado e o braço contra lateral flete ao nível do ombro, a cintura escapular protrai-se e o corpo é rodado, resultando em deslocamento do peso. Os autores relatam, que o terapeuta deve ajudar o paciente a realizar cada passo da passagem das posturas, treinando cada componente perdido para o movimento.

O’SULLIVAN & SCHIMITZ (1993) enfatizam, que as atividades de sustentação de peso e o controle do tronco durante as transições motoras e as posturas verticais devem ter início desde o começo do tratamento, pois melhoram as reações posturais de equilíbrio, proteção e endireitamento. A progressão do treinamento dessas reações deve ocorrer a fim de otimizar o controle do tronco por parte do paciente e prepará-lo para a passagem para a próxima postura, a postura em pé.

O objetivo do trabalho proprioceptivo é a recuperação da sensação de equilíbrio e estabilidade. O equilíbrio exerce a função da estabilidade postural (De Paula, 1991 apud FILHO, 2001).

Os exercícios proprioceptivos são específicos e visam estabelecer o equilíbrio dinâmico das articulações. São executados mediante tomada de peso sobre a articulação, e situações criadas a fim de promover a reeducação do equilíbrio. Promovem desequilíbrio músculo-articular, que proporcionam movimentos complexos e estabilizam a articulação. A importância e o objetivo destes exercícios consistem em após uma lesão provocar desequilíbrios, através de diferentes estímulos para que haja equilíbrio e conseqüente formação de novo engrama (CARVALHO, 2001).

Para STOKES (2000), o fortalecimento dos membros superiores tem início enquanto o paciente ainda está preso ao leito, na fase aguda, por meio de uma variedade de técnicas, por exemplo, exercícios com resistência, biofeedback, estimulação elétrica e FNP. Quando o paciente começa a mobilização na cadeira de rodas, existem muitas opções para o fortalecimento, por exemplo, sequências com peso e atividades esportivas. É um adjunto agradável da reabilitação e incentiva a reintegração.

STOKES (2000) afirma que, dependendo do nível da lesão e da capacidade funcional, uma prancha deslizante pode ser usada para levantar e abaixar os membros inferiores nas transferências para a cama. As transferências então progridem para a elevação em vários níveis: de cima para baixo, de baixo para cima; entre duas bases, do piso para a base; do piso para a cadeira e da cadeira para o vaso sanitário.

O autor enfatiza ainda que a menos que seja contra-indicada, a posição ortostática tem início o mais cedo possível, com a prancha ortostática. Isso traz muitos benefícios: respiratório e psicológico, manutenção da densidade óssea e melhor função corporal. Enquanto estão na posição ortostática, o trabalho com o equilíbrio do corpo tem início, por exemplo, removendo-se o apoio das mãos, jogando e apanhando a bola. Uma vez que o equilíbrio é atingido, o paciente pode preparar-se para andar com dispositivo de reciprocidade, ficando na posição ortostática em suportes para as costas quando apropriado.

A capacidade de andar com dispositivo de reciprocidade e o grau de apoio necessário dependem do nível funcional da lesão. O equilíbrio em posição ortostática é obtido nas barras paralelas, na frente de um espelho, ficando em pé e descansando por meio da tensão dos ligamentos iliofemorais. A técnica de levantamento é ensinada na posição ortostática, levantando todo o peso corporal, com total controle (STOKES, 2000).

Utilizam-se diferentes métodos para a reeducação, todos com finalidade de melhorar as AVD's e com isso proporcionar a independência funcional, tônus muscular adequado, controle motor e a deambulação do paciente (FILHO, 2001).

 

5- RESULTADOS

Após as 11 (onze) sessões de tratamento fisioterápico e no decorrer do tratamento utilizando o protocolo citado, constatou-se uma evolução no quadro sensitivo da paciente, com relatos de discretos aumentos de sensibilidade em locais insensíveis anteriormente, (evidenciado em região abdominal baixa e de coxas); o quadro motor apresentou-se inalterado, não havendo sinais de melhora nem piora. Com o tratamento, pôde-se observar que houve discreto aumento de força muscular em MMSS, principalmente na musculatura extensora de cotovelos (responsável por grande parte das transferências), resultado dos exercícios de fortalecimento de MMSS presentes no programa de tratamento fisioterápico; bem como a manutenção da ADM em todas as articulações do corpo e discreto aumento de força muscular em MMII, principalmente nas musculaturas responsáveis pela flexão/extensão de quadril e extensão de joelhos, o que foi obtido através dos exercícios propostos no programa de reabilitação.

 

6- CONCLUSÃO

O tratamento de uma pessoa com lesão da medula espinhal é complexo e para o resto da vida. Um programa multiprofissional de reabilitação funcional orientado para as metas, possibilita que o paciente com lesão da medula espinhal viva de maneira mais completa e independente possível.

Observa-se que a participação ativa do paciente e da família é fundamental para uma boa evolução do quadro, bem como uma abordagem multiprofissional incluindo: fisioterapeutas, médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, entre outros, se faz necessária para que o processo de reabilitação ocorra de maneira globalizada e o mais precoce possível, oferecendo ao paciente e sua família todos os meios necessários para uma completa e favorável reabilitação.

Através deste estudo, pôde-se comprovar que a fisioterapia exerce um papel de grande importância no tratamento das afecções da medula espinhal, oferecendo aos pacientes, condições de melhora do quadro e maior independência funcional, através da realização de programas de exercícios terapêuticos específicos e individualizados, que atendam aos principais objetivos almejados pelo fisioterapeuta, paciente e seus familiares.

 

7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARR, J. H.; SHEPHERD, R. B. Programa de Reaprendizagem Motora para o Hemiplégico Adulto. São Paulo: Editora Manole, 1988.

CARRIÈRE, B. Bola suíça. São Paulo: Editora Manole, 1999.

CARVALHO, M. B. B. Propriocepção. (www.fisioweb.com.br)

FILHO, B. J. R. Propriocepção. (www. fisioweb.com.br)

GANEM, E. M.; CASTIGLIA, Y. M. M.; VIANNA, P. T. G. Complicações neurológicas determinadas pela anestesia subaracnóidea. Revista Brasileira de Anestesiologia. v. 52, n. 4. Campinas, jul./ago. 2002.

O’SULLIVAN, S. B.; SCHMITZ, T. J. Fisioterapia: Avaliação e Tratamento. 2ª ed. São Paulo: Editora Manole, 1993.

SALVADOR, L. A.; TARNHOVI, E. G. Estudo comparativo da qualidade de vida em indivíduos com trauma raquimedular praticantes e não praticantes de atividades físicas. (www.fisionet.com.br)

STOKES, M. Neurologia para fisioterapeutas. São Paulo: Editora Premier, 2000.

 

Obs:

- Todo crédito e responsabilidade do conteúdo é de seu autor.

- Publicado em 10/11/2010.

 

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