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A Eficácia do Tratamento Fisioterapêutico Hospitalar Precoce em Paciente com AVC Isquêmico: Estudo de caso Imprimir E-mail
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Trabalho realizado por:

Ewerton Leite Roberto.

Acadêmico do curso de fisioterapia da UNIVERSO/JF.

Orientador:

Marcelo R. Bastos.

Médico especialista em Nefrologia pela Fundação Felice Rosso, Professor da Clínica Médica na UNINCOR/Belo Horizonte-MG.

Contato: drbastos2001@yahoo.com

 

Resumo

 

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é um evento caracterizado por súbito comprometimento cerebral provocado por uma variedade de alterações histopatológicas envolvendo um ou vários vasos sanguíneos responsáveis pela irrigação ou drenagem encefálica, podendo ser classificado na forma de sua apresentação como: hemorrágico ou isquêmico. A descrição deste caso clínico apresentou-nos a importância em orientar familiares sobre cuidados necessários com o paciente após episódio de AVC e como objetivo específico, trabalhar no paciente a melhora do controle postural e equilíbrio ao reagir a uma força gravitacional prepararando-o para a marcha independente. Este estudo descreve um paciente do sexo masculino, 76 anos de idade, história pregressa de fibrilação atrial crônica e hipertensão arterial sistêmica, que foi admitido no Hospital de Pronto Socorro Doutor Mozart Geraldo Teixeira, na cidade de Juiz de Fora/MG, com diagnóstico de AVC Isquêmico. Após avaliação clínica, o paciente foi encaminhado para atendimento fisioterapêutico, sendo desenvolvido um plano de tratamento específico. O tratamento proposto foi baseado nos achados da avaliação fisioterapêutica, sendo iniciado alongamentos e fortalecimento dos grupos musculares acometidos, estímulos para um melhor controle postural e treino de marcha. Após 12 sessões de fisioterapia foi observada uma melhora na manutenção da postura e equilíbrio, proporcionando ao paciente estabilidade com segurança postural e a relevância em informar que a ocorrência de outro episódio está relacionada á exposição aos fatores de risco identificados.

 

 

Palavras-chave: Acidente Vascular Cerebral; controle postural; tratamento fisioterapêutico; reabilitação; fatores de risco.

 

 

Introdução

 

 

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é um desfecho que refere-se ao súbito comprometimento cerebral provocado por uma variedade de alterações histopatológicas envolvendo um ou vários vasos sanguíneos intra ou extracranianos, podendo ser classificado na forma de sua apresentação como: hemorrágico ou isquêmico. O AVC hemorrágico consiste em hemorragias intracranianas sendo classificado como difuso ou focal e AVC isquêmico resulta da insuficiência de irrigação sangüínea do encéfalo e é diagnosticado quando ocorre um déficit neurológico com mais de 24 horas de duração. Existem dois principais mecanismos fisiopatológicos que acarretam o AVC isquêmico: Oclusão de um ou mais vasos cerebrais ou pela perfusão tecidual do encéfalo, exemplificando respectivamente, trombo ou êmbolo que se desloca ou é formado no lúmen dos vasos cerebrais, e, complicações sistêmicas que cursam com baixas pressões de perfusão sistêmica, prejudicando o metabolismo celular do Sistema Nervoso Central (SNC). Estes dois mecanismos citados determinam morte celular e posterior processo inflamatório na área encefálica acometida, o que nos apresenta uma perda de neurônios responsáveis por atividades exercidas pela área anatômica comprometida. Para o diagnóstico do AVC isquêmico ou hemorrágico, é necessário iniciar com uma avaliação minuciosa dos fatores de risco de doenças cardiovasculares, exame físico e exames complementares através do imageamento cerebral por Tomografia Computadorizada (TC) e ou Ressonância Magnética (RMN) (BENNETT et al, 1997; O’SULLIVAN e SCHMITZ, 2004).

 

De acordo Roach (2003), os fatores de risco que levam ao AVC são a hipertensão arterial sistêmica, arritmias cardíacas, história pregressa de ataque isquêmico transitório (AIT), AVC prévio e aterosclerose. Smeltzer & Bare (2002) acrescentam as doenças cardiovasculares, dislipidemias, a obesidade, o diabetes mellitus, o uso de contraceptivos orais, o etilismo e o tabagismo, sendo este último, considerado fator isolado para aumento da incidência do AVC.

 

Entre as manifestações clínicas do AVC, a hemiplegia ou hemiparesia no lado contralateral à lesão é considerada um sinal clássico. Tais manifestações incluem ainda, déficit de controle motor envolvendo padrões anormais de movimento; espasticidade; diminuição da velocidade da marcha; alteração do estado cognitivo ou afetivo; disartria e disfasia; distúrbios visuais; lipotímia; cefaléia súbita (SMELTZER e BARE, 2002). Hsu et al (2002) relataram a existência de correlação significativa entre medidas de força muscular e da habilidade funcional desses indivíduos. Harvey (2003) apontou que o indivíduo apresentará limitação na realização de algumas de suas atividades de vida diária, mesmo se o comprometimento motor for leve. Indivíduos que sofreram AVC, freqüentemente, apresentam dificuldade em realizar atividades funcionais como levantar da cadeira sem assistência. A dificuldade em realizar essa atividade pode resultar em inatividade física e isolamento social. A estas manifestações, acresce os sintomas de disfagia, disfunção intestinal e vesical, podendo haver regressão dos sintomas dependendo da extensão anatômica acometida pela lesão encefálica. Por sua vez, o restabelecimento pode levar de dias a meses e requer reabilitação extensiva (ROACH, 2003).

 

A ocorrência do AVC isquêmico freqüentemente traz dificuldades para o paciente, como a perda da autonomia, dependência de outras pessoas para as atividades da vida diária e uma ruptura na interação social com os amigos e os membros da própria família, o que pode resultar em uma importante redução da qualidade de vida destes indivíduos (KIM et al, 1999; LOFGREN et al, 1999; LOFGREN et al, 1999). Apesar das dificuldades citadas, existem alguns achados mais consistentes. Entre eles já se demonstrou que o domínio da qualidade de vida mais afetado inicialmente após o AVC é a capacidade física (JARACZ e KOZUBSKI, 2003), que tende a melhorar com o tempo, mas que, independentemente deste, pode sofrer uma deterioração da dimensão psicossocial (CAROD-ARTAL et al, 2000).

 

A capacidade em manter o equilíbrio é necessária não apenas para a marcha, mas também para atividades da vida diária, trabalho e lazer (DAVIES, 1996). O equilíbrio postural refere-se ao alinhamento dos segmentos articulares necessários para manter o centro de gravidade dentro dos limites máximos da estabilidade. Embora o equilíbrio seja considerado um processo estático é na verdade um processo dinâmico envolvendo vias neurológicas múltiplas (LOVISARO, 2004). A manutenção do equilíbrio postural é um complexo mecanismo de controle, alimentado por um fluxo de impulsos neurológicos provenientes dos sistemas proprioceptivo, vestibular e óculo-motor cujas informações são processadas pelo SNC e retornam por vias eferentes para manter o controle do equilíbrio corporal pela contração dos músculos antigravitacionários (BARAÚNA et al, 2004). Indivíduos hemiparéticos desenvolvem estratégias compensatórias que causam alterações nos componentes do equilíbrio dinâmico e nos padrões de ativação muscular para realizar o movimento de posição sentada para ortostatismo (LEE et al, 1997). Segundo Cheng et al (1998), quanto maior a assimetria na distribuição do peso corporal de indivíduos hemiparéticos, maior a incidência de quedas. Essa assimetria promove um deslocamento do peso corporal para o lado não afetado, o que pode diminuir a força vertical exercida pelos membros inferiores.

 

Nos últimos anos, a fisioterapia tem-se mostrado efetiva na redução dos sinais e sintomas em pacientes com desordens do equilíbrio. De modo geral, esta se baseia na utilização de mecanismos comportamentais tais como a adaptação, a substituição e o reaprendizado, logo, a fisioterapia baseada em exercícios de habituação e treinamento de equilíbrio pode promover a independência nas atividades da vida diária, nas tarefas de alto nível e de cuidado pessoal (RIBEIRO e PEREIRA, 2004). A descrição deste caso clínico mostrou-nos a importância em orientar a família sobre os cuidados necessários, pois o paciente com AVC, após o período de internação hospitalar, retorna à residência com seqüelas físicas e emocionais que comprometem a capacidade funcional em realizar as atividades da vida diária. Especificamente, neste relato, o objetivo foi trabalhar no paciente a melhora do controle postural e equilíbrio ao reagir a uma força gravitacional prepararando-o para a marcha independente, evitando que o paciente permaneça em isolamento e permitindo a sua reinserção na família e na sociedade.

 

 

 

Casuística e Métodos

 

 

Trata-se de estudo de caso do paciente F.P.R., sexo masculino, 76 anos de idade, leucoderma, feirante, que foi admitido no Hospital de Pronto Socorro Doutor Mozart Geraldo Teixeira (HPS), na cidade de Juiz de Fora/MG, no dia 19 de setembro de 2006, com diagnóstico clínico de AVC Isquêmico, história patológica pregressa de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e Fibrilação Atrial Crônica. Observou-se através de registro clínico que o paciente encontrava-se consciente, orientado no tempo e espaço, eupneico, murmúrio vesicular presente e fisiológico sem ruídos adventícios.

 

O paciente foi submetido a uma avaliação fisioterapêutica para documentar o diagnóstico e desenvolver um plano de tratamento específico. Durante a avaliação, foram verificados os sinais vitais convencionais, aferição de pressão arterial, através da medida indireta com esfignomanômetro da marca BD®, no membro superior esquerdo (MSE), com manguito padrão adulto, segundo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia; a freqüência cardíaca foi verificada através da palpação da artéria radial esquerda, durante um minuto, e a freqüência respiratória foi quantificada a partir das incursões respiratórias, quanto à freqüência, o ritmo e a profundidade por sessenta segundos (O’SULLIVAN & SCHMITZ, 2004). Foi avaliado através da observação/inspeção do paciente sua aparência geral e a condição funcional. Para testar o reflexo patelar, o paciente ficou em posição sentada, joelhos fletidos e pés pendentes e através de um martelo convencional produzido para teste de reflexo, foi percutido o ligamento patelar. Na mesma posição, testou-se o reflexo de aquileu quando foi percutido o tendão do calcâneo. Com o paciente em decúbito dorsal foi testado o reflexo cutâneo-plantar, deslizou-se o cabo do martelo a partir do calcanhar para a base do dedo mínimo e depois em direção da base do hálux. (O’SULLIVAN e SCHIMITZ, 2004; CIPRIANO, 2005). Com o paciente em posição sentada e baseado na Escala de Ashworth, uma escala ordinal de 5 pontos, onde: grau 1: sem aumento de tônus muscular; grau 2: leve aumento no tônus muscular; grau 3: moderado aumento do tônus muscular; grau 4: aumento do tônus muscular acentuado e grau 5: rigidez em flexão e na extensão, foi avaliado o tônus muscular através de movimentos passivos nos membros superiores e inferiores. Para avaliar a força e o estado do músculo com base na gravidade e na resistência aplicada manualmente, foi usado o Teste Muscular Manual (TMM), onde o paciente foi posicionado de modo que o músculo ou grupo muscular testado movesse contra a resistência da gravidade e com aplicação de resistência gradual na parte distal do corpo no qual o músculo se insere. Conforme escala ordinal, o teste foi graduado de 0 a 5, sendo 0 sem movimento; 1: contração palpável ou traço; 2: movimento com a gravidade eliminada; 3: movimento contra a gravidade; 4: movimento contra alguma resistência e 5 para força normal (O’SULLIVAN e SCHMITZ, 2004). Para testar a coordenação motora, o paciente em posição sentada, primeiramente de olhos abertos e depois de olhos fechados, foi realizado o teste index-nariz com o cotovelo estendido, solicitou o paciente a levar a ponta do dedo indicador até a ponta do nariz; com os olhos abertos foi aplicado o teste index-dedo do terapeuta, pediu-se para o paciente tocar o dedo do indicador do terapeuta que foi posicionado na frente do mesmo e o teste index-index com os cotovelos estendidos, o paciente foi orientado a aproximar as mãos na linha média e unir os indicadores das duas mãos (O’SULLIVAN E SCHMITZ, 2004; CIPRIANO, 2005) e em decúbito dorsal foi solicitado a colocar o pé sobre o joelho do membro oposto e deslizar o pé ao longo do tornozelo (CIPRIANO, 2005).

 

Para avaliar a amplitude de movimento (ADM) e observar a integridade e mobilidade articular, foram realizados movimentos passivos de flexão, extensão, abdução, adução, rotação interna e externa, abdução e extensão horizontal no ombro; elevação, depressão, protração, retração e rotação para cima e para baixo da escápula; flexão e extensão do cotovelo; pronação e supinação no antebraço; flexão palmar, extensão, desvio radial e ulnar no punho; flexão, extensão, abdução e adução do quadril; e plantiflexão e dorsiflexão do tornozelo (O’SULLIVAN e SCHMITZ, 2004; KISNER e COLBY, 2005).

 

Para avaliar o controle do equilíbrio postural, através de comandos verbais, solicitou-se ao paciente realizar movimentos de sentar e levantar. Em seguida, foi aplicado o Teste de Romberg, paciente em posição ortostática com os pés separados e depois com os pés juntos, com olhos abertos e fechados por um período de 30 segundos (BADKE e DUNCAN, 1983; CIPRIANO, 2005). De um modo geral, a marcha normal possui características em comum, a cabeça e o tronco são mantidos retificados com os olhos voltados para frente, os membros superiores e inferiores interagem de forma harmoniosa, normalmente as pernas transpõem uma linha quase reta, com uma distância de aproximadamente 2,5 a 7,5 cm entre as pegadas (BENNETT e PLUM, 1997), baseado nestes dados, a marcha do paciente foi observada e avaliada através da análise observacional da marcha (AOM) e dos padrões de movimento de tornozelo, pé, joelho, quadril, pelve e tronco ao andar (TURNBUL e WALL, 1985; HOLDEL et al, 1984). Através do teste Up and Go foi avaliado a velocidade da marcha, o avaliador mede o tempo gasto pelo paciente para levantar-se de uma cadeira com braços, caminhar três metros, virar, voltar e sentar novamente na cadeira (PODSIADLO e RICHARDSON, 1991).

 

O tratamento fisioterapêutico proposto foi baseado nos achados da avaliação. Para manutenção das amplitudes de movimento foram realizados alongamentos passivos nos músculos quadríceps, isquiotibiais e gastrocnêmio e alongamentos ativos e ativos-assistidos nos músculos bíceps braquial, tríceps braquial e flexores e extensores do punho.

 

Para fortalecer o músculo quadríceps, solicitou ao paciente para ficar em decúbito dorsal e membros inferiores estendidos, através de comandos verbais o paciente empurrou o joelho em direção a maca por um período de 10 segundos, foi repetida a atividade 3 vezes em cada membro. Na mesma posição, foi instruído a contrair o músculo quadríceps e depois elevar o membro inferior com 45 graus de flexão de quadril por 10 segundos e depois abaixá-lo, sendo aplicado 3 repetições em cada lado. Após, o tempo de sustentação do membro inferior passou para 30 graus de flexão de quadril e, mais tarde, a angulação passou para 15 graus de flexão de quadril. Ainda em decúbito dorsal, o membro inferior do paciente foi elevado passivamente em 90 graus de flexão de quadril, então, foi solicitado ao paciente para abaixar gradualmente com o joelho completamente estendido, posteriormente, a atividade passou para 75 graus de flexão de quadril. Em seguida, o paciente foi solicitado para ficar em posição ortostática, mãos apoiadas no encosto da cadeira e realizar movimentos de flexão e extensão do joelho em 3 séries de 15 repetições cada membro (KISNER e COLBY, 2005).

 

Para treinar e fortalecer o músculo extensor do quadril foi solicitado ao paciente a realizar a atividade de Ponte em decúbito dorsal com joelhos fletidos e pés apoiados, dificultando o grau desta atividade foi acrescentado movimentos de flexão do quadril com os joelhos fletidos. Para praticar as transições da posição sentada para a posição em pé, controlando o tronco e enfatizando a sustentação simétrica do peso, o paciente foi orientado a flexionar ativamente o tronco e impulsioná-lo para frente. No início, o movimento foi facilitado com balanço do tronco na direção desejada e com o comando verbal, o paciente impulsionou o corpo permitindo a mudança da postura, conseqüentemente, os movimentos do paciente se voltavam à extensão. Essa atividade teve início em assentos mais altos para facilitar a atividade, e no decorrer das sessões a posição partia de assentos mais baixos. Para possibilitar um melhor controle dos membros inferiores, o paciente em posição ereta, foi incentivado a praticar a posição sem apoio transferindo o peso para o membro inferior direito (MID) e posteriormente, era implantado movimentos para frente e para trás, de lado a lado e em diagonal, acrescentado movimentos com resistência suave (HORAK et al, 1997; O’SULLIVAN e SCHMITZ, 2004).

 

Com o objetivo de estimular um melhor equilíbrio, paciente em posição ajoelhada e o fisioterapeuta atrás ajudando a manter a posição, foi incentivado a fazer transferência do peso para o lado afetado e empilhar objetos. Após essa atividade, deu-se início ao treino de tarefas duplas, como ficar de pé e chutar uma bola. A bola foi colocada na frente do paciente, de forma que ele desse um passo à frente primeiro com a sua perna sadia e a seguir oscilar a perna comprometida para frente e chutar a bola (DAVIES, 1996; O’SULLIVAN e SCHMITZ, 2004).

 

Deambular é uma atividade motivacional importante para o paciente, com isso, iniciou-se o treino de marcha interagindo-o dentro do meio hospitalar. Realizou-se caminhadas para frente e para trás, lateralmente e em padrão cruzado no interior do quarto de internação e nos corredores do hospital promovendo uma deambulação mais independente em velocidade funcional e sem fadiga, proporcionando ao paciente desenvolver autoconfiança permitindo a um estilo de vida com mais qualidade (O’SULLIVAN e SCHMITZ, 2004).

 

 

Resultados

 

Através dos resultados obtidos na avaliação fisioterapêutica, os sinais vitais apresentaram: Pressão Arterial (PA) 140x80 mmHg, freqüência cardíaca (FC) de 72 bpm, e freqüência respiratória (FR) 14 irpm. O paciente apresentou lúcido, orientado no tempo e espaço, fácies atípica, fala e linguagem preservadas e hemiparético no dimídio direito.

 

Constatou preservados os reflexos patelar e de tornozelo, porém ao avaliar o reflexo plantar apresentou Sinal de Babinski presente a direita e reflexo cutâneo plantar presente a esquerda. Constatou-se através da avaliação da ADM passiva, mobilidade normal global, sem dor nos segmentos corpóreos do paciente. De acordo com a Escala de Ashworth, o punho direito apresentou um moderado aumento do tônus muscular, sendo registrado escore 3 e no membro inferior direito observou um leve aumento do tônus muscular, escore 2.

 

Com relação aos resultados obtidos durante o TMM, baseado na escala ordinal de força muscular, o paciente apresentou força normal nos membros superior e inferior esquerdo, grau de força 5, e, nos membros superior e inferior direito o paciente realizou movimento contra alguma resistência, grau de força 4.

 

Ao testar a coordenação motora do membro superior, através dos testes index-nariz, index-dedo do terapeuta e index-index, o paciente não foi capaz de realizar o movimento com facilidade e de forma suave através do membro superior direito e no teste aplicado aos membros inferiores, realizou de maneira espástica com o membro inferior direito.

 

Ao deambular, balançou o membro inferior direito para fora e para frente em círculo, sendo esta realizada com velocidade reduzida e com auxílio. O equilíbrio do paciente ficou comprometido ao realizar movimentos de levantar e sentar, em manter-se em posição ereta e de movimentar-se em uma postura com sustentação do peso. Foi observado, também, que durante a avaliação, o paciente apresentou atraso no início das atividades motoras, dificuldade de executar seqüências de movimentos e realizar movimentos voluntários.

 

Após 12 (doze) sessões, de acordo com a Escala de Ashworth o tônus muscular do membro inferior direito ficou sem aumento de tônus muscular, onde foi registrado escore 1 e o punho direito apresentou um leve aumento de tônus muscular, sendo registrado escore 2. Foi observado, também, que a força muscular retornou ao normal devido ao trabalho de fortalecimento nos músculos dos membros inferiores. O paciente conseguiu obter o controle da estabilidade no ortostatismo, adquiriu melhor equilíbrio, sustentação do peso pela perna afetada e maior controle da função do joelho. Após as atividades fisioterapêuticas realizadas, o paciente passou executar movimentos voluntários e a realizar dissociação de movimentos, sendo assim, o paciente começou a deambular, com apoio, em maior velocidade da marcha sem comprometer a sua segurança e tornou-se capaz de monitorar seu próprio desempenho.

 

 

 

Discussão

 

 

O fato dos distúrbios do equilíbrio corporal apresentarem conseqüências secundárias para o paciente, reduzindo suas atividades da vida diária, gerando imobilidade corporal e insegurança postural, o presente estudo objetivou trabalhar a melhora do controle postural e equilíbrio.

 

O TMM foi escolhido por ser mais acessível, de fácil emprego e requer baixos custos, enquanto o dinamômetro isocinético necessita de grandes despesas e ambos produzem dados que levam a conclusões similares, porém, é necessária habilidade e precisão na execução do TMM (GUFFEY e BURTON, 1991). Foi observado que os exercícios de fortalecimento muscular recruta unidades motoras, melhorando o grau de força, diminuindo a rigidez muscular e preservando a extensibilidade funcional dos músculos. Estes resultados confirmam com os achados no estudo de Shepherd (2001), onde a autora acrescenta que o fortalecimento muscular ainda promove o aprendizado motor traduzido pelo desenvolvimento de padrões neuromotores de coordenação por meio da prática da ação específica.

 

A avaliação subjetiva global da amplitude de movimento demonstrou baixa confiabilidade por não ter sido mensurada através do goniômetro, sendo levado em consideração apenas à mobilidade articular com presença ou ausência de algia.

 

Diversos autores desenvolveram estudos sobre a qualidade de vida de pacientes que sofreram AVC. Contudo fica difícil saber quais os domínios da qualidade de vida foram mais afetados, pois foram utilizados diferentes instrumentos e a maioria apenas compara a qualidade de vida com outro desfecho, como prejuízo neurológico, estado funcional ou depressão (KIM et al, 1999; WILLIAMS et al, 1999; WYLLER e KIRKEVOLD, 1999; KAUHANEN et al, 2000; SUENKELER et al, 2002; MAYO et al, 2002; MACKENZIE e CHANG, 2002; JARACZ e KOZUBISKI, 2003).

 

Dentre os fatores conhecidos para a avaliação do equilíbrio estático, o teste Romberg foi aplicado por ser um dos métodos mais utilizados devido a sua simplicidade e praticidade, porém não possibilitando a quantificação e sim a qualificação do equilíbrio. Baraúna et al (2004) adaptaram em seu estudo, junto ao teste Romberg, o Oscilômetro padronizando métodos para a quantificação das oscilações ântero-posterior e látero-lateral, permitindo um resultado mais fidedigno.

 

O paciente apresentou leve aumento do tônus muscular do membro inferior, assumiu uma marcha espástica e uma velocidade reduzida, concordando com o comportamento motor relatado no estudo de Corrêa et al (2005), onde foi comprovado, através da eletromiografia, que os mecanismos neurais da espasticidade provoca uma redução do controle motor durante a marcha, explicando a diminuição do comprimento do passo e resultando numa redução da velocidade da marcha.

 

Segundo Horak (2006) o sistema de controle postural é dividido em duas principais funções: orientação postural e estabilidade postural ou equilíbrio. A orientação postural refere-se a capacidade em manter um alinhamento adequado entre os segmentos corporais e entre o corpo e o ambiente durante a realização das tarefas, enquanto a estabilidade postural ou equilíbrio é o estado em que todas as forças de movimento são balanceadas de modo que o corpo permaneça na orientação e posicionamento desejados. Cheng et al (2001) relataram em seus estudos que a manutenção da postura de forma simétrica durante o movimento da posição sentada para ortostatismo pode reduzir a incidência de quedas em hemiparéticos. Embora o ganho da simetria torna uma das metas priorizadas na reabilitação destes indivíduos, não existem evidências de que esta atividade exerça um papel importante no desempenho funcional. Chou et al (2003) mencionaram que durante o período de recuperação pós-AVC, a descarga de peso no membro inferior afetado tende a ser espontaneamente evitado, prejudicando a realização desse movimento. Lee et al (1997) descreveram em seus estudos que o indivíduo pós-AVC ao negligenciar o lado afetado durante as atividades, resultará em um hábito e incentivará o desuso, levando ao desenvolvimento do aprendizado do não-uso. Em concordância aos estudos mencionados, foi observado que as atividades utilizadas na reabilitação após quadro de AVC isquêmico do paciente estudado, permitiu o paciente adquirir maior segurança em mudar de posição, locomover e realizar atividades funcionais com menor dependência, com isso, a sua inserção na família teve uma conotação positiva para o paciente e para os membros familiares. Estas atividades permitem compreender a importância do sistema de controle postural.

 

 

 

Conclusão

 

A partir dos resultados encontrados, neste estudo de caso, concluiu-se que orientar o paciente e familiares sobre os fatores de risco para o AVC, previne recidiva e pode reduzir a ocorrência do evento na população geral. O tratamento fisioterapêutico mostrou-se eficiente na manutenção da postura e equilíbrio, proporcionando estabilidade e segurança postural, além de permitir um ambiente mais favorável para a interação social, psicológica e condição de vida ativa independente, porém, é necessário estudo clínico randomizado, duplo cego com o objetivo de apresentar-nos o real benefício a curto, médio e longo prazo para os pacientes em recuperação de AVC isquêmico com a terapêutica proposta.

 

 

 

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- Publicado em 16/03/08


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