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Flexibilidade e Envelhecimento E-mail
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Trabalho realizado por:

Luiz Carlos Rabelo Vieira

Contato: luizcrvieira@hotmail.com

Licenciado Pleno em Educação Física
Acadêmico de Fisioterapia – UEPA/Santarém
Especialização em Fisiologia do Exercício – Faculdade de Anicuns/Goiás

 

Palavras-chave: Flexibilidade, Envelhecimento, Exercício Físico, Qualidade de Vida.

 

INTRODUÇÃO

A flexibilidade se refere à magnitude de movimento numa ou em diferentes articulações, sendo importante para a realização das tarefas funcionais (FOSS; KETEYIAN, 2000; HOLLMANN; HETTINGER, 2005; ZAGO; GOBBI, 2003). Essa variável neuromotora diminui consideravelmente com a idade, assim como a agilidade, a coordenação, o equilíbrio e a mobilidade articular, ao contrário da rigidez da cartilagem articular, tendões e ligamentos que tende a aumentar (MATSUDO; MATSUDO, 1992b), acarretando maior risco de lesões (NÓBREGA et al., 1999).

No idoso, a flexibilidade está ligada à qualidade de vida, pois sua perda, como resultado do processo de envelhecimento, está associada à dificuldade de locomoção (andar, subir escadas, levantar de uma cadeira ou da cama etc.) (MATSUDO, 2001). Enquanto componente da aptidão muscular, a flexibilidade, quando reduzida, influi negativamente nas variáveis amplitude e cadência do passo (FARINATTI; LOPES, 2004).

A amplitude de movimento de uma articulação depende da estrutura e da função dos ossos, músculos e tecido conjuntivo, bem como da dor e da aptidão para originar força muscular satisfatoriamente (SAFONS; PEREIRA, 2007). No entanto, conforme Castro e Simão (2004), tanto a estrutura como a função desses componentes também são afetadas no processo de envelhecimento.

Hollmann e Hettinger (2005, p. 513) descrevem que a partir dos 25 anos de idade é possível reconhecer uma diminuição da flexibilidade. Prejuízos dignos de menção só podem ser observados, no caso de pessoas que continuam saudáveis, a partir dos 50 aos 55 anos de vida. Solicitações diárias, com 5 repetições a cada vez, com movimentos lentos nas articulações mais importantes, podem ajudar a evitar uma rigidez progressiva.

Para Matsudo (2001), é importante a adoção de um programa de atividade física com exercícios de flexibilidade e equilíbrio na fase do envelhecimento, assim como, segundo Carvalho et al. (1996), os tradicionais treinamentos aeróbico e de força. Da mesma forma, Nóbrega et al. (1999) indicam a atividade física regular como meio de se melhorar a força, a massa muscular e a flexibilidade articular em pessoas acima de 50 anos.

A flexibilidade, por ser um componente importante da capacidade muscular, tem sido consistentemente alvo de inúmeras investigações científicas nas áreas da atividade física e da saúde. Nesse sentido, são apontados os estudos de Silva e Rabelo (2006) que encontraram diferença significativa na flexibilidade de idosas praticantes e não praticantes de atividade física, com maiores resultados para o primeiro grupo. Candeloro e Caromano (2007) perceberam que um programa de hidroterapia aumentou significativamente o nível de flexibilidade e de força muscular de idosas sedentárias.

O aquecimento pode proporcionar um aumento agudo da flexibilidade maior em comparação ao alongamento em idosas (RIBEIRO, 2007).

Silva et al. (2003), ao verificarem a relação entre os níveis de flexibilidade com o tipo de fibra muscular em praticantes de treinamento resistido, descobriram que os mais flexíveis foram aqueles que apresentaram maiores níveis de fibras glicolíticas. Este achado suporta a afirmativa de Dantas (2005), na qual a proporção dos tipos de fibra muscular glicolíticas é um fator genético limitante da flexibilidade. Isso explica satisfatoriamente a queda da flexibilidade com a idade, uma vez que o envelhecimento muscular causa a atrofia ou perda de fibras musculares, sobretudo as de contração rápida (CARVALHO-ALVES; MEDEIROS, 2004; TARTARUGA et al., 2005).

Em resposta à realização de um programa de treinamento resistido, planejado e adequado com ou sem pesos, resulta-se em aumentos significativos da flexibilidade, bem com na força e na densidade mineral óssea (McARDLE; KATCH; KATCH, 2003). Fleck e Figueira Junior (2003) reportam que há aumentos de flexibilidade quando há a abrangência total dos movimentos no treinamento contra-resistido, sem enfatizar excessivamente repetições ou movimentos parciais, além de incluir exercícios para grupos musculares antagonistas e agonistas. A partir dos 40 anos, os exercícios de sobrecarga muscular e flexibilidade são importantes (CARVALHO et al., 1996).

 

TIPOS DE FLEXIBILIDADE

Conforme Weineck (1999), a flexibilidade pode ser ativa (amplitude máxima de movimento que pode ser alcançada em uma articulação pela contração e relaxamento, respectivamente, pelos músculos agonistas e antagonistas) ou passiva (amplitude máxima de movimento que pode ser alcançada em uma articulação com a colaboração de forças externas). Por outro lado, Foss e Keteyian (2000) dividem-na em estática e dinâmica. A primeira refere-se à amplitude de movimento ao redor de uma articulação, enquanto a segunda está ligada à oposição ou a resistência de uma articulação ao movimento.

A flexibilidade pode ser estudada quanto ao agente e quanto à velocidade de execução. O primeiro se subdivide em movimento induzido (realizado por outra pessoa ou grupo muscular desta) e movimento autônomo (executado por grupamentos musculares agonistas). O segundo, igualmente, se subdivide em dois tipos de movimentos: o rápido (realizado com alta aceleração inicial) e o lento (conduzido sem velocidade no percurso de todo o arco articular) (DANTAS, 2003a).

De acordo com Dantas (2003a), da combinação dos enfoques apontados, obtêm-se a seguinte relação:

 

  1. Flexibilidade balística (Agente Induzido + Movimento Rápido): sem muita utilidade prática, pode ser descrita quando a totalidade da musculatura ao redor da articulação dirigida no movimento fica em total relaxamento, sendo que a porção corporal seria mobilizada por agente externo de forma rápida e explosiva.

  2. Flexibilidade estática (Agente Induzido + Movimento Lento): é a mais fácil de mensurar, uma vez que o músculo circundante à articulação fica relaxado e, a partir de agente externo, há a mobilização do segmento de forma lenta e gradual até o alcance do limite máximo.

  3. Flexibilidade dinâmica (Agente Autônomo + Movimento Rápido): “é expressa pela máxima amplitude de movimento obtida pelos músculos motores, volitivamente, de forma rápida” (DANTAS, 2003a, p. 181).

  4. Flexibilidade controlada (Agente Autônomo + Movimento Lento): permite que o indivíduo se sustente em determinado amplo arco articular.

 

AVALIAÇÃO DA FLEXIBILIDADE

As técnicas para aumentar e avaliar a flexibilidade são amplamente descritas na literatura (DANTAS, 2003a; 2003b; FOSS; KETEYIAN, 2000; HOLLMANN; HETTINGER, 2005), parecendo o método da Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP) o mais eficiente para o aumento da amplitude de movimento, pois atua na ação muscular tanto dos músculos agonistas quanto dos antagonistas (CASTRO; SIMÃO, 2004).

Para mensurar a flexibilidade, utiliza-se a averiguação direta ou indireta do ângulo do movimento (HOLLMANN; HETTINGER, 2005). Os testes angulares (resultados expressos em ângulos), lineares (resultados expressos em escala de distância) e adimensionais (comparação dos resultados com uma folha de gabarito) constituem exemplos de medição e avaliação dessa capacidade física (MARINS; GIANNICHI, 1998).

Existem três exemplos principais de testes lineares, conforme Johnson e Nelson (1979 citados por MARINS; GIANNICHI, 1998). São eles: sentar-e-alcançar; extensão de tronco e pescoço; afastamento lateral dos membros inferiores. Quanto aos testes adimensionais, o mais difundido é o protocolo Flexiteste, de Araújo e Pavel (1987 citados por MARINS; GIANNICHI, 1998). Como exemplos dos testes angulares, existem os invasivos - realizados a partir de radiografias ou imagens de ressonância magnética - e os não invasivos - as medidas são feitas por goniômetros e clinômetros (DANTAS, 2003b).

 

AVALIAÇÃO DA FLEXIBILIDADE DO IDOSO

A manutenção da flexibilidade da articulação do ombro e dos músculos isquiotibiais (semitendíneo, semimembranáceo e bíceps femoral) torna-se importante para a autonomia do idoso (DANTAS 2002; 2005). Sendo assim, Rikli e Jones (1999) propuseram dois testes para mensuração dessa flexibilidade. São eles:


1- Coçar as costas

Descrição: o avaliado tem que ficar em pé de modo a tentar sobrepor, o máximo possível, os dedos de ambas as mãos atrás das costas. Considera-se, positivo (+) e negativo (-) os resultados, respectivamente, para os quais há o registro do ultrapasse das pontas dos dedos e o não alcance. Considera-se como ponto zero o alcance dessas extremidades.

Material: régua.

Objetivo: mensurar a flexibilidade da articulação glenoumeral.

 

2- Sentar e alcançar em uma cadeira:

Descrição: o avaliado, sentado numa cadeira com recosto, tem que tocar os dedos dos pés com o dedo médio da mão dominante. Considera-se como ponto zero o alcance dessas extremidades. Sendo assim, os valores positivos (+) são aqueles em que o dedo médio for além do pé e negativos (-) os valores onde não há o alcance deste.

Material: cadeira com recosto reto e régua.

Objetivo: mensurar a flexibilidade da articulação do quadril e região lombar.

 

Referências:

CANDELORO, J. M.; CAROMANO, F. A. Efeito de um programa de hidroterapia na flexibilidade e na força muscular de idosas. Revista Brasileira de Fisioterapia, v.11, n.4, p. 303-309, 2007.

CARVALHO, T. de et al. Posição oficial da sociedade brasileira de medicina do esporte: atividade física e saúde. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.2, n.4, 1996.

CARVALHO-ALVES, P. C. de; MEDEIROS, S. S. Mecanismos moleculares envolvidos na sarcopenia e o papel da atividade física. In: CAMERON, L. C.; MACHADO, M. Tópicos avançados em bioquímica do exercício. Rio de Janeiro: Shape, 2004. cap. 1, p. 17-76.

CASTRO, L. E. V.; SIMÃO, R. Treinamento da flexibilidade. In: SIMÃO, R. Treinamento de força: saúde e qualidade de vida. São Paulo: Phorte, 2004. cap. 2, p. 39-54.

DANTAS, E. H. M. et al. Perda da flexibilidade no idoso. Fitness & Performance Journal, v.1, n.3, p. 12-20, 2002.

______________. A prática da preparação física. 5. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003a.

______________. Avaliação da flexibilidade. In: FERNANDES FILHO, José. A prática da avaliação física. 2. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003b. cap. 6, p. 203-227.

______________. Alongamento e flexionamento. 5. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2005.

FARINATTI, P. T. V.; LOPES, L. N. C. Amplitude e cadência do passo e componentes da aptidão muscular em idosos: um estudo correlacional multivariado. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.10, n.5, p. 389-394, 2004.

FLECK, S.; FIGUEIRA Jr., A. Treinamento de força para fitness e saúde. São Paulo: Phorte, 2003.

FOSS, M. L.; KETEYIAN, S. J. Bases fisiológicas do exercício e do esporte. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

HOLLMANN, W.; HETTINGER, T. Medicina do esporte: fundamentos anatômico-fisiológicos para a prática esportiva. 4. ed. São Paulo: Manole, 2005.

MARINS, J. C. B.; GIANNICHI, R. S. Avaliação & prescrição de atividade física: guia prático. 2. ed. Rio de Janeiro: Shape, 1998.

MATSUDO, S. M. M. Envelhecimento & atividade física. Londrina: Midiograf, 2001.

MATSUDO, S. M. M.; MATSUDO, V. K. R. Prescrição e benefícios da atividade física na terceira idade. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v.6, p. 19-30, 1992b.

McARDLE; W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

NÓBREGA, A. C. L. et al. Posicionamento oficial da sociedade brasileira de medicina do esporte e da sociedade brasileira de geriatria e gerontologia: atividade física e saúde no idoso. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.5, n.6, p. 207-211, 1999.

RIBEIRO, P. B. O efeito do aquecimento e do alongamento nos valores da flexibilidade de idosos de ambos os sexos praticantes de um programa de atividades físicas supervisionadas da cidade de Itumbiara-GO. 2007. 53f. Trabalho de Conclusão do Curso (Graduação em Educação Física) – Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara, Itumbiara, 2007.

RIKLI, R. E; JONES, C. J. Development and validation of a functional fitness test for community-residing older adults. Journal of Aging and Physical Activity, v. 7, p. 129-161, 1999.

SAFONS, M. P.; PEREIRA, M. de M. Princípios metodológicos da atividade física para idosos. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007.

SILVA, E. et al. Níveis de flexibilidade em função do tipo de fibra muscular. Fitness & Performance Journal, v.2, n.3, p. 157-166, 2003.

SILVA, M. da; RABELO, H. T. Estudo comparativo dos níveis de flexibilidade entre mulheres idosas praticantes de atividade física e não praticantes. Movimentum, v.1, p. 69-74, 2006.

TARTARUGA, M. P. et al. Treinamento de força para idosos: uma perspectiva de trabalho multidisciplinar. Artigo de revisão. Revista Digital - Buenos Aires, ano 10, n.82, 2005. Disponível em: http://www.efdeportes.com. Acesso em: 17 jul. 2010.

WEINECK, J. Treinamento ideal. 9. ed. São Paulo: Manole, 1999.

ZAGO, A. S.; GOBBI, S. Valores normativos da aptidão funcional de mulheres de 60 a 70 anos. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v.11, n.2, p. 77-86, 2003.

 

Obs:

- Todo crédito e responsabilidade do conteúdo são de seus autores.

- Publicado em 30/09/2010.


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