Muscle Skeletal System in Acquired Immunodeficiency Syndrome Patients: Study of Cases
Trabalho realizado por: Marieli Dalberto Limberger 1; Andrea Weigel 2
1- Fisioterapeuta- Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). 2. Professora Assistente do Curso de Fisioterapia da UNISC, Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória Avançada pela UNISC, Mestre em Reabilitação e Inclusão pelo Centro Universitário Metodista – IPA.
Endereço para correspondência: Rua Sete de Setembro, 1481. Bairro: Goiás/Avenida. CEP: 96810-252. Telefone residencial: (51) 3713-3659. Telefone celular: (51) 91538992. E-mail: aweigel@unisc.br
RESUMO
Introdução: Este estudo objetivou avaliar o sistema músculo-esquelético de pacientes hospitalizados com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA).
Métodos: O estudo deu-se no Hospital Santa Cruz, em Santa Cruz do Sul-RS, entre agosto e setembro de 2007. A coleta de dados foi autorizada pelo hospital, Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Santa Cruz do Sul e pacientes envolvidos, através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram coletados dados de identificação, anamnese, exame físico, exames complementares, Goniometria, Escala de Dor, Teste de Força Muscular e Perimetria.
Resultados: Foram incluídos no estudo 02 pacientes homens e 01 paciente mulher com idade de 46,67±17,79 anos e diagnósticos de Meningite Streptocócica, fissura anal e Hepatite C, respectivamente; todos com perda de peso e de força muscular e história de outras internações hospitalares.
Conclusão: O estudo enfatiza a importância do fisioterapeuta para avaliar, prevenir e tratar o sistema músculo-esquelético de pacientes com SIDA.
Palavras-chave
Fisioterapia, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, Sistema Musculoesquelético.
INTRODUÇÃO
A infecção não se manifesta da mesma forma em todas as pessoas, entretanto, os sintomas iniciais são geralmente semelhantes e, além disso, comuns a várias outras doenças. Com a progressão da doença começam a surgir doenças oportunistas, tais como: tuberculose, pneumonia, alguns tipos de câncer, candidíase e infecções do sistema nervoso (toxoplasmose e as meningites, por exemplo). (PROGRAMA NACIONAL DE DST E AIDS, 2006, In: www.aids.gov.br).
Não existe cura para a infecção do HIV, uma vez que a terapia consiste no uso de três ou mais medicamentos anti-retroviarais (HAART) para manter e/ou reduzir a carga viral e cuidados paliativos, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida. A equipe responsável para estes cuidados paliativos é multiprofissional e é composta por médico, enfermeiro, psicólogo e assistente social, podendo ter nutricionista, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, psiquiatra (PROGRAMA NACIONAL DE DST E AIDS, 2006, In: http://www.aids.gov.br).
Em função do grande número de pacientes acometidos, que procuram assistência dos profissionais de saúde, a fisioterapia tem sua relevância nesse quadro, objetivando o alívio da sintomatologia dolorosa, manutenção da amplitude de movimento (ADM) articular, retorno e manutenção da funcionalidade e, também, melhora a auto-estima e bem-estar. Quer-se buscar, assim, uma terapêutica apropriada para a síndrome em questão, que possa trazer benefícios a todos aqueles que sofrem tais alterações (GABRIEL, 2001).
Dessa forma, essa pesquisa teve como objetivo geral avaliar o sistema músculo-esquelético de pacientes com Aids internados no Hospital Santa Cruz, em Santa Cruz do Sul -RS. Especificamente os objetivos foram: verificar os sinais e sintomas advindos de possíveis disfunções músculo-esqueléticas, a funcionalidade e as características físicas dos pacientes com Aids hospitalizados e identificar a importância da fisioterapia frente às alterações músculo-esquelético destes pacientes.
MATERIAIS E MÉTODOS
Esta pesquisa caracterizou-se por um estudo de casos do tipo observacional exploratório, Participaram da pesquisa três pacientes portadores da Aids, de ambos os sexos, com idades entre 39 e 67 anos, que se encontravam internados no Hospital Santa Cruz, em Santa Cruz do Sul, entre os meses de agosto e setembro de 2007. Os 03 pacientes obtiveram autorização médica para a avaliação fisioterapêutica, leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Esta pesquisa vem respaldada no artigo 07 da Legislação e Código de Ética Profissional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, que se refere ao sigilo profissional e de privacidade do paciente. Onde a mesma foi avaliada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), obtendo sua aprovação.
A coleta de dados foi realizada no período da tarde, no próprio quarto do paciente, pela própria aluna pesquisadora, através de uma avaliação do sistema músculo-esquelético, que segundo Palmer e Epler (2000), “é essencial para um diagnóstico correto e para eleger o tratamento mais apropriado”.
Ao exame físico (inspeção e palpação), observou-se o tipo corporal, o trofismo e o tônus muscular, o tipo de abdome, o tipo de dieta, presença de acesso venoso e sondas, nível de consciência. Posteriormente, verificou-se os sinais vitais do paciente: Pressão arterial sistêmica (PA) através de esfigmomanômetro de pressão da marca Premium, Freqüência cardíaca (FC) através da palpação da pulsação radial, Freqüência respiratória (FR) através dos movimentos da caixa torácica e abdomino-diafragamática.
O estado nutricional foi avaliado pela observação do tipo corporal e perguntas sobre o peso atual do paciente, bem como sobre a perda de peso desde o início dos sintomas que originaram a internação hospitalar atual. A avaliação nutricional através de uma abordagem global, incluindo história clínica e dietética, exame físico e laboratorial e avaliação antropométrica, atividade física ou profissional desenvolvida, podem-se estimar o estado nutricional do indivíduo com razoável acurácia, além de direcionar condutas alimentares relacionadas ao valor calórico a ser ofertado (BARROS, et al. 2007).
Os exames complementares, uso de medicamentos e dieta foram dados coletados do prontuário dos pacientes. Os testes específicos foram realizados com os pacientes em decúbito dorsal (DD) no leito, com cabeceira posicionada em 0º, uma vez que esta era a posição que referiram mais conforto e a única que permitia a realização dos testes ativamente, sem auxílio da pesquisadora ou acompanhante, pois os três pacientes apresentavam fatores como dor, medo e fraqueza muscular generalizada que lhes impedia de adotar outra postura.
Dentre os testes específicos, foi aplicado a Escala de Borg para mensuração da dor (Borg CR Scales), pois é efetiva para o objetivo de acompanhar a intensidade da dor num mesmo indivíduo e é uma escala compreensível para a grande parte das pessoas, além de poder ser aplicada a maioria dos pacientes em diferentes situações (SOUSA e SILVA citados por SCOLPEL; ALENCAR; CRUZ, 2007). Após familiarizar o paciente sobre o funcionamento da escala, o paciente então era questionado sobre seu nível de dor e classificava-o de 0 a 10+. Zero representava o estado sem dor e dez a pior dor imaginável. A escala numérica da dor tem por finalidade obter uma classificação subjetiva da intensidade da dor por parte do paciente. A escala permite obter uma “mensuração” relativamente rápida da dor (PALMER; EPLER, 2000).
Para mensurar a amplitude de movimento (ADM) que uma articulação pode realizar foi feito a goniometria das articulações da cervical, ombro, cotovelo, punho, quadril, joelho e tornozelo, através de movimentos ativos. “A medida da amplitude do movimento (ADM) é um importante parâmetro utilizado na avaliação e no acompanhamento fisioterapêutico, conseqüentemente, a confiabilidade dessa medida e dos instrumentos utilizados devem ser avaliados” (VENTURINI; ITUASSÚ; TEIXEIRA; DEUS).
Para mensurar a ADM utilizou-se um goniômetro da marca CARCI. A padronização da metodologia é parâmetro fundamental, porém não existe consenso na literatura quanto à padronização das medidas (MILLER; 1985; ELVERU; ROTHSTEIN; LAMB; 1988 citados por VENTURINI; ITUASSÚ; TEIXEIRA; DEUS, 2006). Utilizou-se nesta pesquisa os parâmetros de normalidade os valores goniométricos descritos por Palmer e Epler (2000). Os valores normais estão descritos na ficha de avaliação aplicada ao paciente.
Os testes de avaliação muscular têm por objetivo detectar um desequilíbrio muscular produzido por debilidade muscular, para auxiliar no diagnóstico e na prescrição de exercícios terapêuticos. A força é testada para mostrar a habilidade de um músculo de produzir ou resistir a esta força. Mede-se então, a quantidade de resistência que o sistema de uma alavanca muscular pode vencer ou manter (GOULD; 1993; SMITH; 1997 citados por ALEXANDRE; MORAES, 2001).
Neste estudo, a resistência aos músculos de membros inferiores (MMII) e membros superiores (MMSS) era imposta pela aluna pesquisadora, que orientava ao paciente para realizar o movimento solicitado contra a resistência de sua mão. Foram testados movimentos de flexão e extensão relativa de quadril, joelhos, ombros e cotovelos e abdução; adução de MMII e MSS de forma bilateral. O sistema de classificação de força utilizado foi o UK Medical Research Council foi aplicado, onde 0 é paralisia total, 1 contração rápida, 2 movimento com a gravidade eliminada, 3 movimento contra a gravidade, 4 movimento contra a resistência, mas incompleto e 5 força normal (EPSTEIN, et al.,1998).
Para verificar o trofismo muscular ou presença de edema do paciente aplicou-se o teste de Cacifo e a perimetria dos MMSS e MMII, através do uso de uma fita métrica. Nos membros superiores (MMSS) a partir da linha inter-articular e nos membros inferiores (MMII) a partir da linha inter-articular, superior e inferiormente. Com uma caneta foi marcado na pele do paciente um pontinho em 5, 10 e 15 centímetros, onde nestes pontos com o uso da fita métrica envolta de todo o membro verificaram-se quantos centímetros de espessura aquele membro se encontrava (PALMER; EPLER, 2000).
Para verificação do tônus muscular a consistência da massa muscular deve ser avaliada através da compressão digital e o examinador deve observar a postura dos membros avaliados. Os movimentos realizados com os membros devem utilizar uma amplitude de velocidade e não uma velocidade fixa (RAMOS, 1998; Knoplich, 1986 citados por ALEXANDRE; MORAES, 2001; EPSTEIN, 1998). Logo, avaliadas a flexão e extensão dos cotovelos, pronação e supinação dos antebraços e a flexão e extensão dos quadris e joelhos dos pacientes com Aids.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa deu-se com três pacientes portadores da Aids, moradores de Santa Cruz do Sul – RS, sendo que um era do sexo feminino e dois do sexo masculino, com idade média de 46,67 ± 17,79 anos. Foram identificados 314.294 casos de Aids em homens e 159.793 em mulheres, sendo a relação hoje de 1,5 homem para 1 mulher contaminada. A epidemia está concentrada em 0,6% na população de 15 a 49 anos. Em ambos os sexos, a maior parte dos casos se concentra na faixa etária de 25 a 49 anos, mas tem-se verificado aumento de casos na população acima de 50 anos (Programa Nacional de DST/AIDS. In: http://www.hiv.org.br).
No que diz respeito às causas da internação hospitalar, um paciente internou com diagnóstico clínico de Hepatite C (VHC); um com Meningite Criptocócica e um por fissura anal seguido de procedimento cirúrgico de reparo. Os vírus HIV e da VHC utilizam os mesmos mecanismos de transmissão, o que explica alta frequência da co-infecção, aumentando o risco de cirrose hepática, pois o HIV acelera a progressão do VHC (SILVA et al, 2006).
A meningite criptocócica pode ocorrer em qualquer idade e é mais comum em imunocomprometidos. A criptococose é a infecção fúngica mais comum do Sistema Nervoso Central. A apresentação é subaguda com febre, cefaléia, náuseas e alteração do comportamento. Ocorre em até 27% dos casos, quase sempre bilateral e de apresentação súbita. A meningite criptocócica é uma infecção grave e a apresentação clínica torna o diagnóstico difícil. (MATOS, et al. 2006).
A fissura anal é uma lesão benigna, sendo seu sintoma mais comum a dor anal que normalmente se exacerba com o ato evacuatório. A lesão da fissura anal assemelha-se a uma ulceração, dando a impressão de que houve uma laceração local. Se a localização da fissura anal estiver fora dos dois sítios (comissura anterior e posterior) a lesão objeto de estudo pode ser causada por alguma outra doença, como a tuberculose, a doença de Crohn, a sífilis, ou mesmo uma neoplasia incipiente; nestas oportunidades a lesão fissurária pode estar localizada na comissura lateral, pode ser múltipla e muitas vezes são indolores (MOREIRA et al., 2003).
A etiologia da fissura anal ainda é motivo de discussão para tentar explicar a história desta doença. Provavelmente o processo fissurário deve iniciar-se por um traumatismo, geralmente causado por fezes muito endurecidas ou por um processo inflamatório no canal anal, geralmente uma criptite, uma papilite ou genericamente uma proctite, que facilitariam, pela diminuição da resistência dos tecidos da região, a ação do traumatismo desencadeador (MOREIRA et al., 2003).
Devemos considerar também que os três pacientes estudados apresentavam em sua história pregressa da doença, outras internações hospitalares, devido a diferentes tipos de doenças oportunistas comuns à AIDS: hemofilia, sífilis, gonorréia, hepatite C, pneumonia, tuberculose e leptospirose.
Na inspeção e palpação dos pacientes avaliados, observou-se que os três pacientes eram lúcidos, orientados e colaborativos e com tônus muscular normal. Segundo Nitrini e Bacheschi (2005), as manifestações neurológicas da Aids, explicam o motivo pelo qual investigamos o nível de consciência e o tônus dos pacientes, uma vez que as manifestações mais comuns são perda de memória, apatia, alterações da marcha, hipertonia, hiperatividade de reflexos, distúrbios esfincterianos, agitação e desinteresse social.
Dos três participantes, todos relataram perda de peso desde o início dos sintomas que originaram a internação hospitalar atual, sendo que dois apresentaram emagrecimento (sexo masculino) e um apresentou caquexia com atrofia muscular (sexo feminino). Segundo o relato dos próprios pacientes sobre seu peso, calculou-se o peso médio de 60,67 ± 2,08 Kg dos mesmos, que por sua vez apresentaram uma perda de peso médio de 6,33 Kg. Seguiu-se o relato do paciente sobre seu peso porque não houve condições de realizar esta medição devido à impossibilidade de um paciente manter-se em ortostase de forma independente.
Os portadores de doenças infecciosas, como a infecção pelo HIV e a Aids, apresentam, em algum momento, o seu metabolismo voltado ao consumo do tecido muscular. O catabolismo severo normalmente leva os indivíduos a experimentarem estágios de muita dor, que podem ser explicados pela degradação da musculatura e perda de massa magra corporal. A caquexia consiste em um estado de elevada auto-consumação do organismo, caracterizado pelo emagrecimento severo e altas taxas de catabolismo muscular (DIBERNARDI, 2006).
O HIV afeta o estado nutritivo, e somado a má nutrição conduz a uma progressão mais rápida da infecção para a síndrome, pois as pessoas infectadas com o HIV apresentam maiores necessidades energéticas. Os adultos assintomáticos ou as crianças precisam de mais 10% de energia do que os não infectados, enquanto que aqueles em estado avançado de doença necessitam de 20-30% mais energia para manterem o peso corporal, segundo relatório do Deutsche-Presse Agentur, 2007 (www.aidsportugal.com).
Em dois pacientes avaliados o abdome era do tipo distendido, o que pode ser confundido com o abdome globoso, muito comum nesta patologia, uma vez que há alterações corporais e metabólicas que compõem a chamada síndrome lipodistrófica associada ao tratamento anti-retroviral. A síndrome compreende ganho de adiposidade central e visceral, aliada a lipoatrofia facial e nas extremidades (LOPES, 2006).
Os sinais vitais todos pacientes apresentavam-se estáveis, apresentando valores de frequência cardíaca média de 90,33 ± 8,08 batimentos por minuto, frequência respiratória média de 14 ± 2,65 incursões respiratórias por minuto, pressão arterial sistólica média de 107 ± 11,55 milímetros de mercúrio e pressão arterial diastólica média de 63,3 ± 15,28 milímetros de mercúrio.
O paciente 1, no quadro 3, apresentava edema e dor em pé esquerdo e estava sob investigação traumatológica e ortopédica para diagnóstico definitivo deste sinal e sintoma. No teste de goniometria, a ADM apresentou-se reduzida no MI esquerdo (E) na articulação do tornozelo ao realizar a dorsiflexão apresentou 10 graus de ADM, na flexão 15 graus, no movimento de inversão 8 graus e na eversão 10 graus, houve um aumento nos valores de perimetria de 2,5 centímetros na terceira medida abaixo do joelho E. Este mesmo paciente, no teste de força muscular apresentou uma diminuição no MI E (grau 3), sem relato de fadiga e seu nível de dor quando não se encontrava medicado era de 07 (muito forte) na Escala de Borg para dor.
O paciente 2, apesar do quadro de caquexia, com perda de peso significativa e quadro de atrofia da musculatura, não apresentou nenhuma redução na goniometria. Não relatava dor (0 – absolutamente nenhuma) e conseguia realizar ativamente todos os movimentos. No teste de força muscular teve uma redução no MS E devido acesso venoso (grau 2) e no MS D e MsIs (grau 3), relatando fadiga muscular já antes da internação hospitalar, ao realizar atividades de vida diária. Estes aspectos podem ser explicados pelo seu Hemograma: eritrócitos – 3,13 milhões/mm³ (4,2 a 5,4 milhões/mm³ predito para as mulheres); hemoglobina – 11,1g/dl (12 a 16g/dl predito para as mulheres), condizendo com certo grau de anemia (WALLACH, 1999).
O paciente 3 apresentou uma redução nas medidas goniométricas na região cervical devido seu quadro de meningite, onde por períodos apresentava enrijecimento da região, ao realizar o movimento de flexão da cervical o paciente apresentou 25 graus de ADM e ao realizar a pronação apresentou 45 graus de movimento. Referiu forte algia, 09 na escala de Borg para dor (entre muito forte e muitíssimo forte) ao realizar qualquer movimento na região da cabeça, cervical, ombros (quando não estava medicado). No teste de força muscular apresentou diminuição nos MsSs devido difícil venóclise e então dor na região (grau 3), tônus e trofismo muscular preservados e não relatava fadiga muscular.
Ressalta-se aqui que o paciente 3, tinha diagnóstico de Meningite apresentando alterações na Tomografia Crânio devido a presença de neurocriptose e suspeita de hipertensão intracraniana, o que explica a redução da movimentação da cervical. Houve também alteração no exame de creatinina – 0,61mg/dl (0,8 a 1,5mg/dl nos homens) e redução de eritrócitos – 2,91 milhões/mm³ (4,6 a 6,2 milhões/mm³ predito para homens); hemoglobina – 10,4g/dl (14 a 18g/dl predito para homens), hematócrito – 31,3% (42 a 54% predito para homens) podendo corresponder a fraqueza muscular e/ou emagrecimento apresentado por este paciente (WALLACH, 1999).
Segundo Umphred (2004), as artrítides vistas em pacientes com Aids podem variar de leves atralgias a incapacidades muito graves das articulações, elas têm sido classificadas clinicamente em cinco grupos: (1) síndrome articular dolorosa; (2) poliartrite simétrica aguda; (3) artrite espondiloartrópica; (4) artrite associada ao HIV e (5) artrite séptica. No relatório dos Segundo Direitos Humanos (2006), a fadiga muscular ocorre com uma freqüência de 70 – 90%, a cefaléia de 30- 70%, mialgia e/ou artralgia de 50 – 70% úlceras orais de 10 – 20%, úlceras genitais de 5 – 15% e emagrecimento de 10 – 15%.
Já as manifestações neurológicas da doença por HIV são inúmeras e envolvem o sistema nervoso central (SNC), sistema nervoso periférico (SNP) e sistema nervoso autônomo (SNA). No SNP: Sensorial – no estágio inicial e intermédio, as extremidades inferiores distais estão bastante envolvidas, há parestesia e sensibilidade à temperatura diminuída. Nos estágios avançados, há diminuição dos reflexos, diminuição da sensibilidade à temperatura e vibração e da propriocepção, bem como hiperestesia.
No quadro motor – muito semelhante à síndrome de Guillain-Barré (fraqueza muscular progressiva – paralisia, diminuição dos reflexos tendinosos) e no SNA: arritmias – principalmente taquicardia. Pressão sangüínea anormal quando em ortostase e nos exercícios isométricos. O envolvimento do SNA tem sido associado com demência, mielopatia e neuropatias sensoriais periféricas (UMPHRED, 2004).
Mesmo que os pacientes estudados não apresentavam tais manifestações neurológicas, segundo Umphred (2004), a neurorreabilitação deve ser incentivada, incluindo um tratamento fisioterapêutico voltado para componentes de padrão da função cognitiva, perceptiva e motora. O funcionamento independente é a meta da reabilitação, qualquer que seja o estágio da doença, bem como a manutenção da resistência e da força, da ADM passiva e ativa.
A facilitação e inibição neuromuscular, o posicionamento e a imobilização são modalidades variáveis para normalizar o tônus conforme necessário. O treinamento da marcha, o uso de assistência para andar, o treinamento em planejamento motor, bem como exercícios de equilíbrio e a resistência podem ser adequados. A redução da dor é obtida pelo treinamento de técnicas respiratórias, visualizações, relaxamento muscular progressivo, autogenética, música, meditação e envolvimento em atividades significativas (UMPHRED, 2004).
Há alguma preocupação com relação aos exercícios aeróbios aumentarem a taxa metabólica do corpo e dessa forma aumentar ainda mais a perda muscular. Logo, o tratamento da reabilitação concentra-se em deficiências específicas, incapacidades e ramificações psicossociais da infecção. Compensações, mobilidade, re-treinamento de AVDs, controle da dor e habilidades de gerenciamento na comunidade constituem um plano de tratamento bem desenvolvido (UMPHRED, 2004).
A maioria dos estudos acerca dos efeitos da prática regular de exercícios físicos sobre o sistema imunológico de portadores de Aids envolve principal ou exclusivamente atividades aeróbicas. Melhorias no condicionamento cardiorrespiratório e na saúde mental, com pouca ou nenhuma influência sobre variáveis relacionadas ao sistema imunológico têm sido reportadas. Uma prescrição segura de exercícios precisa levar em consideração: idade, sexo, história pregressa de atividade física, condicionamento físico, comprometimento orgânico e o objetivo do portador (LIRA, 1999, In: http://www.bireme.br).
A infecção pelo HIV/Aids tem a propensão, através da ação direta do vírus ou das doenças oportunistas e neoplasias, de envolver múltiplos órgãos e sistemas, produzindo uma grande variedade de condições debilitantes. O aumento da sobrevida associado à debilidade física conseqüente à doença pode comprometer a independência do paciente, tanto na mobilidade e autocuidado, como para o trabalho e produtividade. Conforme aumenta o número de pessoas infectadas, mais atenção precisa ser dada ao manejo da incapacidade física para proporcionar uma melhor qualidade de vida (ZONTA, 2003, In: <http://www.bireme.br>).
Considerações Finais
Este estudo visou beneficiar o paciente HIV/Aids, por tentar demonstrar que a fisioterapia através da avaliação, neste caso do sistema músculo-esquelético, pode representar um tratamento mais efetivo, por orientar objetivos e condutas fisioterapêuticas seguras e direcionadas. Logo, os objetivos da fisioterapia são prevenir ou retardar as incapacidades que a doença impõe aos pacientes, tentando-se manter a independência do paciente por muito mais tempo, com uma melhor qualidade de vida.
A fisioterapia propõe engajar o paciente a prática de exercícios físicos e também de terapias em grupo para uma melhor socialização do mesmo, não esquecendo que o fisioterapeuta deve ser sensível ao sofrimento que o paciente está passando. Melhorias no condicionamento cárdiorrespiratório e na saúde mental estão sendo muito reportadas para estes pacientes.
Neste estudo, deve-se ressaltar que a postura adotada para realizar a avaliação dos pacientes foi decúbito dorsal sendo que a mesma não traz benefícios a este grupo de pacientes, pois acarreta em uma debilidade física comprometendo a independência do paciente tanto na mobilidade e auto-cuidado como para o trabalho e produtividade.
No entanto, neste estudo a fisioterapia estava prescrita para apenas um dos pacientes, apesar de os três apresentarem, além da doença atual, doenças pregressas e sinais e sintomas que condiziam com a necessidade de atendimento fisioterapêutico, como redução da ADM de algumas articulações, algia e fraqueza muscular. Desta forma, observa-se à necessidade de demonstrar a importância da avaliação e do atendimento fisioterapêutico para este grupo de pacientes e demais profissionais da saúde, mesmo quando estes não encontram-se hospitalizados.
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- Todo crédito e responsabilidade do conteúdo é de sua autora. - Publicado em 12/01/2011.
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