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Envelhecimento, Exercício Físico e Autonomia Funcional: Conceitos e Relações Baseadas em Evidências Científicas E-mail
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Trabalho realizado por:

Luiz Carlos Rabelo Vieira

Contato: luizcrvieira@hotmail.com

Licenciado Pleno em Educação Física
Acadêmico de Fisioterapia – UEPA/Santarém
Especialização em Fisiologia do Exercício – Faculdade de Anicuns/Goiás

 

 

Palavras-chave: Envelhecimento; Exercício Físico; Autonomia Funcional.

 

 

Introdução

O termo “saúde” foi redefinido pela Organização Mundial da Saúde, em 1947, como o “estado de completo bem-estar físico, psíquico e social e não meramente ausência de doença ou enfermidade” (PACHOAL, 2005, p. 313). Mas, na opnião do autor, significa a capacidade que um indivíduo ou grupo possui em continuar exercendo as funções inerentes em seu ambiente físico e social, de modo a contribuir para a sociedade, interagindo com esta. Mostra-se, todavia, um desafio entender que essa capacidade permanece, mesmo que a idade já se apresente avançada. Isso reside ao fato da velhice ter sido pensada, quando sempre, como um processo degenerativo, em dissonância a qualquer forma de progresso ou desenvolvimento. Sendo assim, a atenção ao idoso deve ser retomada, em virtude do aumento da expectativa de vida das populações em consequência das descobertas de novos fármacos, melhora de procedimentos diagnósticos e o desenvolvimento de técnicas cirúrgicas mais eficientes (AIDAR et al., 2006), onde os indivíduos passam a sobreviver até 70 ou 80 anos de idade. Desafio ainda maior é fazer com que esses mesmos indivíduos permançam com suas capacidades funcionais adequadas nessas faixas etárias.

Sabe-se que o ser humano desenvolve e aprimora suas capacidades até os 20 ou 31 anos de idade, quando, a partir daí, o seu desempenho funcional começa a declinar com o passar dos tempos de modo a atingir patamares indesejáveis, comprometendo a capacidade de realização de tarefas comuns diárias (PACHOAL, 2005).

Conforme Pachoal (2005), existem vários fatores que contribuem para o processo natural de envelhecimento. Certamente, grande parte desse declínio provém da redução da prática de atividades físicas ao invés das próprias mudanças ocasionadas pelo envelhecimento. Portanto, a atividade física possui um importante papel para reduzir o índice de declínio da capacidade funcional, desenvolvendo a autonomia no idoso e melhorando sua qualidade de vida por um período de tempo mais expressivo.

Sem dúvida, a perda da capacidade funcional gera a incapacidade para a prática das Atividades da Vida Diária (AVDs). Estas, conforme Okuma (1998, p. 55), estão relacionadas “às atividades de cuidados pessoais básicos, como vestir-se, banhar-se levantar-se da cama e sentar-se numa cadeira, utilizar o banheiro, comer e caminhar uma pequena distância”. Sendo assim, a expectativa de vida ativa termina quando a saúde de uma pessoa se compromete ao ponto de dificultar a realização de AVDs, tornando-a dependente de outras pessoas ou de demais formas de assistência.

Spirduso (1995 citada por ANDREOTTI e OKUMA, 1999) estabeleceu a classificação da capacidade funcional de idosos em cinco categorias hierárquicas, a saber:

 

  1. Idosos fisicamente dependentes: pessoas que necessitam melhorar as funções necessárias à realização das atividades de auto-cuidado (Ex.: alimentar-se, banhar-se, vestir-se, usar o banheiro, transferir-se de um lugar para outro e caminhar).

  2. Idosos fisicamente frágeis: aqueles que necessitam aprimorar as funções necessárias à realização de atividades básicas e instrumentais da vida comum diária (Ex.: cozinhar, limpar a casa, fazer compras).

  3. Idosos fisicamente independentes: pessoas que devem aprimorar e manter as funções físicas que lhes dá independência, uma vez que são sedentárias.

  4. Idosos fisicamente ativos: carecem manter um nível ótimo de capacidade física e funcional. Sua idade cronológica não condiz com a biológica, ou seja, aparentam ser mais jovens.

  5. Idosos atletas: aqueles que são engajados em atividades esportivas e competitivas. Por conta disso, necessitam de treinamento que mantenham as capacidades motoras em altas condições.

Rosa et al. (2003) reportam vários fatores relacionados à dependência de idosos que conduzem ao declínio da capacidade funcional dos mesmos. São eles: analfabetismo, aposentadoria, ser pensionista, ser dona de casa, não ser proprietário da moradia, ter idade superior a 65 anos, apresentar composição familiar multigeracional, ter história de acidente vascular encefálico (AVE), ter problemas de visão etc. Ações preventivas em alguns desses fatores podem satisfatoriamente propiciar benefícios para o prolongamento do bem-estar dessa população.

Com relação à atividade física, vários estudos, com aplicação de diferentes métodos de intervenção e procedimentos avaliativos, foram conduzidos com o objetivo de demonstrar que são positivos os efeitos dessa prática na autonomia funcional e, consequentemente, na melhoria da qualidade de vida de pessoas idosas.

 

Resultados de pesquisas concernentes à relação entre exercício físico e autonomia funcional

Aidar et al. (2006) perceberam que 12 semanas de exercícios aquáticos praticados por um grupo de idosos (média de 67 anos de idade) foram importantes na prevenção de patologias, quedas e outros problemas relacionados à idade. Houve, também, e tão importante quanto, a melhora da sociabilidade e maior independência para a realização de tarefas diárias comuns.

Mattos e Farinatti (2007), ao realizarem um estudo com um grupo de 16 mulheres (entre 68 e 82 anos de idade), onde as mesmas realizaram treinamento aeróbico de volume e intensidade reduzidos, identificaram que esse tipo de treino pode promover a melhora na capacidade de trabalho submáximo e na autonomia funcional em pessoas da faixa etária em questão.

Hernandes e Barros (2004) perceberam que um programa de atividades físicas e educacionais aumentou o desempenho de idosos (entre 61 e 77 anos de idade) em executarem testes semelhantes a alguns afazeres comuns do dia-a-dia.

Coelho e Araújo (2000) descobriram que praticantes de exercícios supervisionados apresentam facilidades para a execução de ações cotidianas, pelo ganho considerável de flexibilidade global, a qual é aumentada pela redução de peso corporal.

A Yoga, para Alves, Baptista e Dantas (2006), além de aumentar a flexibilidade e outras capacidades motoras como a força muscular e o equilíbrio, também se mostrou benéfica para a autonomia funcional de mulheres idosas sedentárias.

 

Deterioração fisiológica X treinamento resistido (TR)

Com o avançar da idade, não há dúvidas que existe uma tendência natural de redução das capacidades motoras relacionada à saúde em indivíduos não praticantes de exercícios físicos regulares (DIAS et al., 2008). Esse fator contribui ao aumento da adiposidade corporal, o qual repercute negativamente na capacidade funcional de mulheres acima de 47 anos de idade (RASO, 2002), bem como a obesidade em mulheres acima de 51 anos (SILVA et al., 2007). Já em mulheres fisicamente ativas, percebe-se que a evolução das capacidades motoras e funcionais apresenta comportamento similar, independentemente da idade cronológica (MATSUDO et al., 2003). Isso reforça ainda mais os benefícios advindos da prática regular de exercícios físicos sobre os efeitos deletérios do processo de envelhecimento.

O TR também vem sendo considerado extremamente importante para a manutenção da realização das AVDs por idosos (MAZINI FILHO, FERREIRA e CÉSAR, 2006; RABELO e OLIVEIRA, 2003), ainda que sejam comprometidas pela fadiga muscular aguda periférica (PAULA, VALE e DANTAS, 2006).

Vale et al. (2006) verificaram que o TR realizado apenas duas vezes semanais, por 16 semanas, a 75-85% de uma repetição máxima (1RM), contribuiu significativamente ao incremento de força muscular, flexibilidade e autonomia funcional, correlacionando-se positivamente ao aumento do desempenho para a realização das AVDs em mulheres idosas. Vale, Novaes e Dantas (2005) corroboram com os autores, visto que reportam que o TR é mais importante quando comparado ao treino exclusivo de flexibilidade, através do método de flexionamento dinâmico.

Côrtes e Silva (2005) conduziram uma pesquisa com 30 mulheres (média de 68 anos de idade), com o objetivo de verificar a relação existente entre a manutenção da força muscular e a autonomia funcional. O TR foi realizado durante 12 semanas. Após esse período, houve a divisão em dois subgrupos (grupo manutenção - GM e grupo controle - GC), onde o primeiro desenvolveu treinos reduzidos de apenas uma sessão semanal, durante oito semanas, enquanto o seu controle cessou o treino. A conclusão do estudo foi que o treinamento de força muscular, além de melhorar diversas funções biológicas, aumenta a força muscular e a autonomia, benefícios os quais permanecem por até oito semanas.

 

Avaliação da autonomia funcional

Na literatura científica especializada, são encontradas várias propostas validadas (métodos/protocolos) para avaliação da autonomia funcional que lembram AVDs. Destacam-se, entre elas, o protocolo do Grupo de Desenvolvimento Latino-Americano para a Maturidade (GDLAM) direcionado a idosos (DANTAS e VALE, 2004); a bateria de avaliação sistematizada por Andreotti e Okuma (1999), para idosos fisicamente independentes; o procedimento da American Alliance for Health Physicol Education, Recreation and Dance (www.aahperd.org) e o protocolo proposto por Rikli e Jones (1999).

 

Referências:

AIDAR, F. J. et al. Idosos e adultos velhos: atividades físicas aquáticas e a autonomia funcional. Fitness & Performance Journal, v.5, n. 5, p. 271-276, 2006.

ALVES, A. S.; BAPTISTA, M. R.; DANTAS, E. H. M. Os efeitos da prática do yoga sobre a capacidade física e autonomia funcional em idosas. Fitness & Performance Journal, v.5, n.4, p. 243-249, 2006.

ANDROTTI; R. A.; OKUMA, S. S. Validação de uma bateria de testes de atividade da vida diária para idosos fisicamente independentes. Revista Paulista de Educação Física, v.13, n.1, p. 46-66, 1999.

CÔRTES, G. G.; SILVA, V. F. Manutenção da força muscular e da autonomia, em mulheres idosas, conquistadas em trabalho prévio de adaptação neural. Fitness & Performance Journal, v.4, n.2, p. 107-117, 2005.

DANTAS, E. H. M.; VALE, R. G. S. Protocolo GDLAM de avaliação da autonomia. Fitness & Performance Journal, v.3, n.3, p. 169-180, 2004.

DIAS, D. F. et al. Comparação da aptidão física relacionada à saúde de adultos de diferentes faixas etárias. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, v.10, n.2, p. 123-128, 2008.

HERNANDES, E. S. C. H.; BARROS, J. F. Efeitos de um programa de atividades físicas e educacionais para idosos sobre o desempenho em testes de atividades da vida diária. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v.12, n.2, p. 43-49, 2004.

MATSUDO, S. M. M. et al. Evolução do perfil neuromotor e capacidade funcional de mulheres fisicamente ativas de acordo com a idade cronológica. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.9, n.6, p. 365-367, 2003.

MATTOS, M.; FARINATTI; P. Influência do treinamento aeróbio com intensidade e volume reduzidos na autonomia e aptidão físico-funcional de mulheres idosas. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v.7, n.1, p. 100-108, 2007.

MAZINI FILHO, M. L.; FERREIRA, R. W.; CÉSAR, E. P. Os benefícios do treinamento de força na autonomia funcional do indivíduo idoso. Revista de Educação Física, n.134, p. 57-68, 2006.

RIKLI, R. E; JONES, C. J. Development and validation of a functional fitness test for community-residing older adults. Journal of Aging and Physical Activity, v 7, p. 129-161, 1999

OKUMA, S. S. O idoso e a atividade física: fundamentos e pesquisas. São Paulo: Papirus, 1998.

PASCHOAL, S. M. P. Autonomia e independência. In: PAPALÉO NETTO, M. Gerontologia. São Paulo: Atheneu, 2005. cap. 28, p. 313-323.

PAULA, R. H.; VALE, R. G. S.; DANTAS, E. H. M. Relação entre o nível de autonomia funcional de adultos idosos com o grau de fadiga muscular aguda periférica verificado pela eletromiografia. Fitness & Performance Journal, v.5, n.2, p. 95-100, 2006.

RABELO, H. T.; OLIVEIRA, R. J. O treinamento de força e sua relação com as atividades da vida diária de mulheres idosas. In: DANTAS, E. H. M.; OLIVEIRA, R. J. Exercício, maturidade e qualidade de vida. 2. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003. cap. 4, p. 79-97.

RASO, V. A adiposidade corporal e a idade prejudicam a capacidade funcional para realizar as atividades da vida diária de mulheres acima de 47 anos. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.8, n.6, p. 225-234, 2002.

ROSA, T. E. C. et al. Fatores determinantes da capacidade funcional entre idosos. Revista de Saúde Pública, v.37, n.1, p. 40-48, 2003.

SILVA, K. M. S. et al. A influência da obesidade na capacidade funcional de mulheres acima de 51 anos. Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimentoversão eletrônica, v.1, n.1, p. 31-38, 2007.

VALE, R. G. S.; NOVAES, J. S.; DANTAS, E. H. M. Efeitos do treinamento de força e de flexibilidade sobre a autonomia de mulheres senescentes. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v.13, n.2, p. 33-40, 2005.

VALE, R. G. S. et al. Efeitos do treinamento resistido na força máxima, na flexibilidade e na autonomia funcional de mulheres idosas. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, v.8, n.4, p. 52-58, 2006.

 

Obs:

- Todo crédito e responsabilidade do conteúdo são de seus autores.

- Publicado em 14/09/2010.


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