Trabalho realizado por:
Paulo Júnior de Meira Freitas.
Acadêmico do 7ª período do curso de fisioterapia da Faculdade São Francisco de Barreiras.
Contato: paullojunnior321@hotmail.com
Resumo
O Acidente vascular encefálico (AVE) caracteriza-se por um déficit neurológico focal ou global súbito, com sintomas que duram mais de 24 horas ou que levam a morte devido à lesão vascular cerebral (OMS, 2003). A obstrução do fluxo sanguíneo de alguma parte do cérebro determina o que se chama isquemia cerebral, que, se durar um período de tempo suficiente para provocar lesão no cérebro, leva ao acidente vascular cerebral (REDE SARAH, 2011)l. As células cerebrais morrem alguns minutos após a interrupção completa do fluxo sanguíneo. Entretanto, apesar de ocorrer uma oclusão completa de um vaso cerebral durante um AVC isquêmico agudo, persiste algum grau de perfusão, mesmo no centro da região cerebral isquêmica, em virtude do fluxo colateral e de variações nos gradientes de pressão tecidual locais. As células variam de neurônios com lesões irreversíveis no centro da região isquêmica até neurônios com lesões reversíveis na periferia. Teoricamente, quanto mais precoce a reperfusão, maior a probabilidade de sobrevivência da célula. O presente estudo foi conduzido no Centro de Prevenção e Reabilitação de Deficiências Físicas do Oeste da Bahia (CEPROESTE). Apresentando como objetivo principal, relatar a intervenção fisioterapêutica realizada em um paciente portador de sequelas do acidente vascular encefálico de origem isquêmica. A intervenção fisioterepêutica demonstrou ser eficaz uma vez que produziu uma melhora na capacidade funcional do indivíduo, e principalmente proporcionou uma melhora significativa na qualidade de vida do mesmo.
Palavras-chave: acidente vascular encefálico, hemiplegia, reabilitação, avaliação.
1. Introdução
Segundo a Rede Sarah (2011), a doença vascular cerebral constitui a terceira causa de morte no Ocidente. É também a segunda causa de perdas cognitivas, sendo a primeira a doença de Alzheimer. A mortalidade na fase aguda, nos primeiros 30 dias, oscila entre 8 a 20 por cento. O risco acumulado de mortalidade no final do primeiro ano é de 22 por cento, sendo maior nos acidentes vasculares aterotrombóticos e cardioembólicos e menor nos infartos lacunares. O risco de recorrência de um AVC é maior nos primeiros 30 dias após um infarto cerebral. As taxas de recorrência em longo prazo oscilam entre 4 a 14 por cento ao ano. Os fatores de risco de recorrência do AVC são: diabetes e hipertensão arterial diastólica.
Segundo Damiani (2002), o acidente vascular de origem trombótica é resultante da formação de um coágulo de sangue dentro de um vaso geralmente sobre forma de uma placa de gordura (aterosclerose), levando a uma obstrução total ou parcial. Os locais mais freqüentes são as artérias carótidas e cerebrais. Assim, se houver obstrução total da carótida direita, por exemplo, "a parte da frente da metade direita do cérebro" estará comprometida, determinando problemas (paralisia, perda de sensibilidade etc.) na metade esquerda do corpo.
Para Perlini et al., (2005), O acidente vascular isquêmico (AVC) é um distúrbio neurológico decorrente da interrupção do suprimento sangüíneo cerebral, podendo ocorrer de maneira transitória (episódio isquêmico transitório) ou permanente, sendo considerado segundo diferentes estatísticas, de 53,0% a 85,0% dos casos de AVC, predominando a sua forma permanente.
Embolia cerebral surge quando um coágulo ou uma placa de gordura (ateroma), ocasionado por alguma cardiopatia se desprende ou se quebra geralmente da artéria carótida, se deslocando através de uma artéria até encontrar um ponto mais estreito, não conseguindo passar e ocluindo a passagem do sangue (DAMIANI, 2002).
Segundo Pereira et al., (2009), O acidente vascular cerebral (AVC) é um déficit neurológico comum em adultos, sendo uma das maiores causas de incapacidade e mortalidade em todo o mundo. No Brasil, evidencia-se que apesar da diminuição nas taxas de mortalidade, ainda é a principal causa de morte. A incidência de AVC dobra a cada década após os 55 anos, ocupando posição de destaque entre a população idosa. Estima-se que a prevalência mundial na população geral é de 0,5% a 0,7%. Além de elevada mortalidade, a maioria dos sobreviventes apresenta seqüelas, com limitação da atividade física e intelectual e elevado custo social.
O aumento da expectativa de vida é uma realidade mundial atual, ao mesmo tempo em que o aumento da longevidade favorece o desenvolvimento de alterações funcionais nos indivíduos que resultam muitas vezes em uma predisposição para o aparecimento de doenças crônicas e suas seqüelas, e que na maioria das vezes tornam-se incapacitantes, destacando-se entre elas a hipertensão arterial sistêmica, o diabetes mellitus, a artrite reumatóide e o acidente vascular encefálico (COSTA et al., 2011).
O acidente vascular encefálico é considerado um problema que preocupa a saúde pública mundial, sendo considerado um distúrbio que promove uma alteração desastrosa na vida dos indivíduos acometidos. É também um evento altamente complexo que exige a interação de diversos profissionais da saúde no processo de reabilitação.
Dessa forma o presente estudo tem como objetivo, descrever a importância do fisioterapeuta no processo de reabilitação desse distúrbio, através de um relato de caso sobre a intervenção terapêutica realizada com um paciente portador de acidente vascular encefálico isquêmico de origem trombótica do Centro de Prevenção e Reabilitação de Deficiências Físicas do Oeste da Bahia (CEPROESTE).
2. Métodos
O presente estudo trata-se de uma abordagem descritiva do tipo relato de caso, realizado com um paciente portador de seqüelas devido acidente vascular encefálico isquêmico de origem trombótica. A fonte de dados para fundamentação teórica desse estudo foi obtida a partir de artigos do banco de dados da Scielo, Bireme dentre outras, além de dados contidos no prontuário do paciente.
Este estudo foi conduzido no Centro de Prevenção e Reabilitação de Deficiências Físicas do Oeste da Bahia (CEPROESTE). A avaliação fisioterapêutica deu-se início no dia cinco de abril de dois mil e doze, onde foram obtidos os dados iniciais da paciente, como nome, idade, estado civil, naturalidade, data de nascimento, sexo, etnia, endereço residencial, cidade em que residia, profissão, contatos, histórica social e dados clínicos como o nome do médico responsável e a especialidade do mesmo.
Em seguida foram verificados os sinais vitais, onde a pressão arterial (PA) foi aferida, através do estetoscópio e esfigmomanômetro e a freqüência cardíaca (FC) através de contagem dos batimentos por minuto no pulso arterial do paciente. Após realizou-se a anamnese, coletando informações sobre a queixa principal da paciente, história da doença atual, história da doença pregressa, história familiar, história social e exames complementares
Ao término de todo procedimento de anamnese e da avaliação física do paciente, foi obtido o diagnóstico fisioterápico, sendo em seguida traçado os objetivos e condutas para o tratamento fisioterápico para o paciente.
Então, no dia 5 de abril do ano de 2012, deu-se início ao tratamento fisioterápico proposto através dos dados encontrados na avaliação. O tratamento proposto seria realizado em sessões semanais, duas vezes por semana, totalizando vinte sessões com duração de trinta minutos cada, onde desde o primeiro encontro foi iniciado o processo terapêutico com cinesioterapia, sendo as metas e condutas do tratamento fisioterápico proposto para o mesmo descrito abaixo.
3. Desenvolvimento
O Relato de caso
nóstico clinPaciente J.J.S , sexo masculino, 44 anos, de raça mulato , chegou ao CEPROESTE com diagico de AVC isquêmico (origem trombótica) com área não especificada sofrido há dois anos, com histórico de etilismo e tabagismo por mais de 20 anos consecutivos, com sinais vitais normais, sua freqüência cárdica (FC) era de 60 (sessenta) batimentos por minuto (BPM), freqüência respiratória (FR) DE 15 (quinze) incursões por minuto (IRPM), pressão arterial (PA) de 120 x 80 mmHg e temperatura de 37 graus. A ausculta pulmonar apresentava murmúrio vesicular presente e sem ruídos adventícios em ambos dos pulmões.
Apresentava hemiparesia em hemicorpo esquerdo, com audição normal em ambos os lados, diminuição da acuidade visual (Presmiopia), cognitivo preservado. A amplitude de movimento (ADM) apresentou-se normal em todo hemicorpo direito, diminuída no membro superior esquerdo, apresentava encurtamento dos músculos flexores dos dedos, pronadores e braquial, sua força muscular era de grau 4 no hemicorpo direito para todos os movimentos e grau 1 no MSE e grau 2 no MIE.
As avaliações dos reflexos superficiais e profundos mostraram-se preservados no lado direito (Normoreflexia), e exacerbados no lado esquerdo (Hiperreflexia), ainda foram descartados os testes específicos de coordenação devido à hemiparesia do hemicorpo esquerdo. O tônus muscular de acordo com a escala de Ashworth foi avaliado como sendo grau 3 para membro superior esquerdo e inferior esquerdo, com aumento considerável da resistência a movimentação passiva. Na avaliação da função relacionada às atividades de vida diária, foi observado que o paciente necessita de ajuda para tomar banho, alimentar-se, locomover-se, vestir-se dentre outras funções, sendo portando considerado um pessoa dependente.
As condutas fisioterapêuticas realizadas no programa de tratamento aplicado foram os seguintes:
Alongamentos e mobilização articular para MMSS e MMII, priorizando o lado esquerdo.
.Fortalecimento muscular em MIE.
Exercícios ativo assistido em MMSS e MMII.
Treino de coordenação motora fina e níveis de preensão em MSE.
Treino de coordenação motora e força em MSE.
Dissociação de cintura pélvica em bola suíça
Exercícios em sedestação com desequilíbrios para controle de tronco.
Transferências posturais.
Kabath em MIE.
Treino respiratório.
Treino de marcha.
Treino de AVDs.
Estimulação sensória motora em MMII (em sedestação).
4. Resultados
Em relação aos resultados obtidos, cabe destacar que os mesmos não foram obtidos de maneira mais significativa pelo fato de o paciente não ter comparecido a todas as sessões terapêuticas propostas nesse trabalho, além das limitações encontradas no processo terapêutico, devido a idade avançada do paciente e do pouco tempo disponibilizado para o tratamento proposto.
O paciente apresentou melhora em relação ao ganho de força muscular, evoluindo para grau 3 em membro superior esquerdo e membro inferior esquerdo, adquiriu ainda uma melhora para as habilidades manuais, tornando-se parcialmente independência para a realização de algumas AVDs (higiene pessoal e alimentação), em relação as transferências, o paciente obteve uma melhora para as mudanças de decúbito dorsal para sentado e vice-versa, além de uma melhora significativa do controle do tronco e do equilíbrio estático.
5. Conclusão
O acidente vascular encefálico é um distúrbio grave, que gera conseqüências devastadoras na vida dos indivíduos. A falta de conhecimento em relação aos fatores de risco sujeita as pessoas há uma maior susceptibilidade ao desenvolvimento do acidente vascular encefálico. Dessa forma o atendimento precoce e o atendimento fisioterápico tem se mostrado uma arma eficaz, pois minimiza e previne complicações decorrentes do acidente vascular encefálico.
Podemos afirmar que o tratamento fisioterapêutico nesse estudo demonstrou ser benéfico ao paciente, promovendo uma melhora da força muscular e do equilíbrio, uma vez que proporcionou uma melhora para realização das suas atividades da vida diária. Ressaltando ainda que a fisioterapia vem desempenhando um importante papel na melhora da qualidade de vida dos pacientes com seqüelas do acidente vascular encefálico. Sendo assim o fisioterapeuta tem que estar sempre familiarizado com os atuais avanços da intervenção em sua prática diária, para que utilize somente aqueles procedimentos eficazes.
Dessa forma é imprescindível ressaltar da importância da realização de novas pesquisas ou estudos sobre a intervenção do fisioterapeuta no acidente vascular encefálico, visto que a incidência e as complicações creditadas a esta doença são muito vastas, e que inúmeras são as possibilidades de atuação do fisioterapeuta, desde a avaliação e a própria reabilitação cinésio funcional, e até mesmo o acompanhamento domiciliar, orientação à família até a postura do profissional perante o paciente. O Fisioterapeuta, enquanto agente motivador, sempre objetivará a devolução máxima possível do bem estar e das pessoas.
Referências
COSTA, Fabrícia Azevêdo da; SILVA, Diana Lidice Araujo da; ROCHA, Vera Maria da. Estado neurológico e cognição de pacientes pós-acidente vascular cerebral. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 45, n. 5, out. 2011 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php. acessos em 24 abr. 2012.
DAMIANI, Drs. Ibsen T.; YOKOO, Edson I. AVC - Acidente Vascular Cerebral. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. v. 10, n. 1, 09 fev. , Porto Alegre Trb Pharma, 2002.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, Direção Geral de Saúde; CIF –Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – Classificação detalhada com definições; 2003.
PEREIRA, Ana Beatriz Calmon Nogueira da Gama et al . Prevalência de acidente vascular cerebral em idosos no Município de Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil, através do rastreamento de dados do Programa Saúde da Família. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, n. 9, set. 2009 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php. acessos em 24 abr. 2012.
PERLINI, Nara Marilene Oliveira Girardon; FARO, Ana Cristina Mancussi e. Cuidar de pessoa incapacitada por acidente vascular cerebral no domicílio: o fazer do cuidador familiar. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 39, n. 2, jun. 2005 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php. acessos em 24 abr. 2012.
REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO. Acidente Vascular Cerebral. Disponível em: < http://www.sarah.br/> Acesso em: 24 abril de de 2012.
Obs:
- Todo crédito e responsabilidade do conteúdo são de seu autor.
- Publicado em 10/09/2012.
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