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Avaliação Cardiorrespiratória de Pacientes Oncológicos com Fadiga Submetidos a um Protocolo de Endurance na Esteira Imprimir E-mail
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AVALIAÇÃO CARDIORRESPIRATÓRIA DE PACIENTES ONCOLÓGICOS COM FADIGA SUBMETIDOS A UM PROTOCOLO DE ENDURANCE NA ESTEIRA

Jéssica Ribas dos Santos1, Bárbara Beatriz Joei Mioto², Suzane Ketlyn Martello³, WoldirWosiacki Filho4

 

1 Fisioterapeuta Residente de Cancerologia pelo Hospital Erasto Gaertner, Curitiba-PR, Brasil

2 Fisioterapeuta,ex-residente de Cancerologia pelo Hospital Erasto Gaertner, Curitiba-PR, Brasil

3 Mestre em Tecnologia em Saúde, Curitiba-PR, Brasil

4 Mestre em Engenharia. Preceptor do programa de residência de Fisioterapia em cancerologia do Hospital Erasto Gaertner – Curitiba/PR.

 

RESUMO

Introdução: Apesar dos tratamentos antineoplásicos serem, muitas vezes, efetivos no ataque às células cancerosas, eles são responsáveis por um aumento nos níveis de fadiga nos sujeitos em tratamento, resultando em diminuição da capacidade funcional e levando-os à diminuição da capacidade cardiorrespiratória. Objetivo: Avaliar o impacto de um protocolo realizado na esteira para o treino de endurance, na capacidade cardiorrespiratória de pacientes oncológicos com queixa de fadiga. Metodologia: Onze sujeitos com diagnóstico de câncer, que estavam em tratamento antineoplásico, foram recrutados após avaliação do nível de fadiga pela Escala de Piper-revisada. Em seguida, eles realizaram a espirometria, o teste de caminhada de 6 minutos (TC6), a cirtometria toracoabdominal e a manovacuometria. O protocolo de condicionamento cardiorrespiratório ocorreu em 10 atendimentos, tendo como base a distância percorrida durante o TC6. Resultados: Aumentos significativos entre os momentos pré e pós intervenção foram observados para o Coeficiente do Apêndice Xifóide durante a Expiração Máxima (2,2cm); para a Velocidade Máxima Alcançada (2,2km/h); para a PiMáx e PeMáx (15,4cmH2O em ambas) e para a distância percorrida no TC-6 (217,3m). Conclusão: A melhora na apresentação de algumas variáveis pode ser atribuída à aplicação do protocolo, sendo ele, portanto, efetivo nessa população para melhora da performance cardiopulmonar.

Palavras-Chaves: Fisioterapia, Câncer, Fadiga, Cardiorespiratória

 

Introduction: Although antineoplastic treatments are often effective in attacking cancer cells, they are responsible for increased fatigue levels in treatment subjects, resulting in decreased functional capacity leading to loss of quality of life and decreased cardiorespiratory capacity. Objective: To evaluate the impact of a treadmill protocol for endurance training on the cardiorespiratory capacity of cancer patients with fatigue. Methodology: Eleven subjects diagnosed with cancer who were undergoing antineoplastic treatment were recruited after fatigue level assessment by the revised Piper Scale. Then they performed spirometry, 6-minute walk test (6MWT), thoracoabdominal cirtometry and manovacuometry. The cardiorespiratory conditioning protocol occurred in 10 visits, based on the distance covered during the 6MWT. Results: Significant increases between the pre and post intervention moments were observed for the Xiphoid Appendix Coefficient during Maximum Exhalation (2.2cm); to the Maximum Speed ​​Achieved (2.2km / h); for PiMáx and PeMáx (15.4cmH2O in both) and for the distance covered in the TC-6 (217.3m). Conclusion: The improvement in the presentation of some variables can be attributed to the application of the protocol, which is therefore effective. in this population to improve cardiopulmonary performance.


Keywords: Physiotherapy, Cancer, Fatigue, Cardiorespiratory

 

INTRODUÇÃO

Atualmente as neoplasias malignas estão se tornando um problema de saúde pública por sua causa de morbidade e mortalidade em todo o mundo. A estimativa para o Brasil, biêmio 2016-2017 aponta a ocorrência de cerca de 600 mil casos novos de câncer (INCA, 2016). Os atuais métodos terapêuticos para o tratamento das neoplasias malignas incluem as ressecções cirúrgicas, a radioterapia, a quimioterapia e a hormonioterapia. Embora muitos desses tratamentos sejam efetivos na remoção e/ou ataque às células malignas, sabe-se que algumas dessas intervenções também afetam células de tecidos saudáveis, desencadeando uma série de efeitos deletérios que podem levar a debilitações agudas e crônicas em função da citotoxicidade. Essas debilitações incluem uma redução na capacidade cardioventilatória, bem como outras questões relacionadas à diminuição dos níveis de atividade física (SEIXAS, KESSLER, FRISON, 2010).

Segundo o Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, 72% a 95% dos pacientes com câncer (CA) que recebem tratamento apresentam problemas cardiorrespiratórios, resultando em diminuição da capacidade funcional e levando-os à perda da qualidade de vida (NCI, 2016). Já a fadiga nos pacientes oncológicos pode ser causada por fatores como o estado hipermetabólico associado com o crescimento tumoral, competição entre o organismo e o tumor por nutrientes, efeitos deletérios da quimioterapia e radioterapia, ingesta nutricional inadequada associada à náusea e vômitos decorrentes da terapêutica antineoplásica, anemia, distúrbios do sono ou estresse prolongado (MENEZES, CAMARGO, 2006).

Devido ao descondicionamento cardiorrespiratório e muscular causados pelo CA e pelo seu tratamento, ocorre um aumento da taxa metabólica, aumento do consumo energético, substancial aumento da FC e concentração de lactato em atividades de baixa intensidade (DIMEO, SCHWARTZ, FIETZ, et al., 2003), direcionando os pacientes a evitarem a realização de esforços, o que produz perdas adicionais de condicionamento levando a um ciclo de autoperpetuação da fadiga (DIMEO, STIEGLITZ, NOVELLI-FISCHER, et al., 1999). Fato este bastante prejudicial, pois esse descondicionamento cardiorrespiratório resultante da inatividade é um preditor chave para uma maior mortalidade em pacientes oncológicos (INGRAM, VISOVSKY, 2007).   Os protocolos existentes na literatura  como exercício de força e aeróbio pode reduzir os níveis de fadiga de pessoas com câncer. (Nascimento et al, 2011).    Mock, Frangakis, Davidson e colaboradores (2005) também afirmam que o exercício físico aeróbico domiciliar como caminhada de moderada intensidade reduz de forma estatisticamente significativa os sintomas de fadiga em pacientes com câncer de mama durante o tratamento.  A partir do exposto acima, portanto, ficam claros os benefícios do exercício físico na prevenção e também durante o tratamento do câncer. Desse modo, fazem-se necessárias intervenções sob o âmbito fisioterapêutico que minimizem os efeitos deletérios dos tratamentos antineoplásicos.

 

METODOLOGIA

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Erasto Gaetner (HEG), pelo CAAE número 65149417.5.0000.0098. O presente estudo caracterizou-se de natureza aplicada, quantitativa, exploratória e experimental (10).

Participantes

Foram recrutados sujeitos com diagnóstico de câncer (independente da localização, tipo histológico e estadio clínico da doença), em quimioterapia e/ou radioterapia e com escore superior a 4 na escala de Piper-revisada (o que sugere a presença de fadiga). Os critérios de exclusão foram os seguintes: estar realizando tratamento fisioterapêutico em outro local, angina instável e infarto agudo do miocárdio no mês anterior à realização dos testes, frequência cardíaca de repouso superior a 120 batimentos por minuto, pressão arterial de repouso superior a 180 mmHg (sistólica) e/ou 100 mmHg (diastólica), arritmia cardíaca não-controlada, saturação de oxigênio basal menor que 90%, desordens musculoesqueléticas que promovessem marcha claudicante, perturbações do foro cognitivo/psiquiátrico que sejam impeditivas de garantir um grau de colaboração eficaz, presença de dor torácica ou abdominal que impeça a realização das manobras ventilatórias forçadas, presença de sintomas como vômitos, hemoptises e diarreia, incapacidade de utilização adequada de peça bocal, infecção respiratória em curso e gravidez.

Todos os indivíduos foram devidamente informados acerca dos procedimentos a serem realizados e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), de acordo com a resolução 466/12. O estudo foi composto por doze encontros. No primeiro e último atendimentos foram realizadas as avaliações, nos dez atendimentos intermediários foram realizadas as intervenções programadas.

Avaliações

As avaliações ocorreram da seguinte forma:

  • Ficha de identificação do paciente: Perfil sócio-demográfico e clínico;
  • Escala de Fadiga de Piper-revisada: usada para avaliar o nível de fadiga, é composta por 23 itens subdivididos em 4 diferentes domínios: afetivo; sensorial; cognitivo e; comportamental. Em cada categoria, o nível de fadiga é categorizado por meio de um escore que varia de zero a dez pontos, sendo que: zero significa ausência de fadiga; nível médio de fadiga varia de um a três pontos; nível moderado de fadiga vai de quatro a seis pontos; e nível severo de fadiga inclui a faixa de sete a dez pontos (11).
  • Teste de caminhada de 6 minutos (TC6): utilizado para avaliar a resposta do individuo ao exercício fazendo uma analise global do sistema cardiorrespiratório. usado para avaliar a resposta de um indivíduo ao exercício e propicia uma análise global dos sistemas respiratório, cardíaco e metabólico (19), e ele também pode ser relacionado com alguns parâmetros funcionais. A diminuição da distância percorrida sugere, por exemplo, restrição da habilidade de realizar as atividades domésticas moderadas ou intensas, as quais estão relacionadas à capacidade funcional e à qualidade de vida nos idosos (01). O sujeito foi instruído a caminhar sem parar ou reduzir a marcha por seis minutos. O avaliador obteve a frequência cardíaca, saturação de pulso de oxigênio e percepção dos sintomas de dispneia e fadiga  por meio da escala de Borg no 1°, 3° e 6º minuto de caminhada (24).
  • Espirometria: é um teste que auxilia no diagnóstico e classificação do distúrbio ventilatório, pois permite medir o volume de ar inspirado e expirado assim como os fluxos respiratórios. As principais variáveis geradas por este teste são: capacidade vital forçada (CVF), volume expiratório forçado no primeiro segundo da manobra (VEF1) e o índice de Tiffenau (VEF1/CVF) (22). Outra variável é a mensuração do trabalho da ventilação voluntária máxima (VVM), e é, teoricamente, de grande importância para avaliar a capacidade máxima de trabalho realizada pelos músculos respiratórios (16). Esse teste foi realizado em uma sala climatizada, respeitando os critérios da American Thoracic Society (17).
  • Cirtometria: consiste em um conjunto de medidas das circunferências do tórax e abdômen durante os movimentos respiratórios que têm como finalidade avaliar a expansibilidade torácica (3). A cirtometria foi realizada com o uso de uma fita métrica escalonada em centímetros, de forma que a circunferência horizontal tomasse três níveis: axilar, xifoidiano e abdominal. Na região axilar a fita métrica é colocada abaixo da prega axilar. Para mensurar a amplitude xifoidiana, é tomada como ponto de referência a borda inferior do apêndice xifoide; por último, para verificar a amplitude abdominal, a distância média entre o apêndice xifóide a cicatriz umbilical é utilizada. As medidas foram obtidas em posição ortostática. Em cada ponto de referência foram realizadas 3 inspirações e expirações máximas, sendo anotado os 3 valores, bem como as diferenças obtidas entre a inspiração e a expiração (coeficiente de amplitude);
  • Manovacuometria: tem como objetivo avaliar a força muscular respiratória na pressão estática que é gerada na boca após a inspiração e expiração completas caracterizando, respectivamente, a Pressão Inspiratória máxima (PIMáx) e a Pressão Expiratória máxima (PEMáx) (6). As manobras foram repetidas três vezes, e o maior valor foi considerado para análise.

Avaliações Finais: depois de completados os 10 atendimentos, todos os sujeitos da pesquisa foram reavaliados com os testes supracitados.

 

Intervenção

O sujeito foi submetido a um protocolo para treino de endurance na esteira com base na distância predita no TC6. O protocolo iniciou em 60% da distância predita no TC6, e foi acrescentado 10% do valor da distância a cada atendimento durante cinco atendimentos. A partir da 6º sessão, 5% do valor da distância predita foi acrescentado, até atingir um total de 10 atendimentos, e em todos eles, o tempo de aplicação do protocolo foi de 10 minutos, sendo a distância percorrida no sexto minuto anotada e usada como parâmetro de melhora. Ressalta-se que para atingir as distâncias propostas em cada atendimento, foi necessário também o aumento da velocidade de caminhada. Em média, os atendimentos foram realizados 5 vezes semanais, totalizando 2 semanas de intervenção. A FC e SpO2 foram monitorizadas por meio de um oxímetro de Dedo Portátil AT 101C Bioland®.

Análise Estatística

A análise estatística dos dados foi realizada por meio do softwareIBM SPSS Statistics (v.21.0). Primeiramente as variáveis quantitativas contínuas foram testadas quanto à normalidade de suas distribuições por meio do teste de Shapiro Wilk. As variáveis de espirometria, cirtometria, velocidade inicial, velocidade final, distância percorrida no 10ºmin, FC e SpO2 no 5ºmin apresentaram distribuição normal e foram comparadas entre o primeiro e o décimo atendimento por meio do teste paramétrico t de Student para Amostras Pareadas, e as demais por meio do teste não paramétrico de Wilcoxon. Um nível de significância de 5% (α = 0,05) foi assumido em todas as análises.

RESULTADOS

A amostra foi composta por 11 participantes, nove do sexo masculino e dois do sexo feminino, cujas características estão apresentadas na Tabela1 por meio de média e DP.

 

Tabela 1 – Características da amostra

Variável

Média ± DP

Idade (anos)

59,9 ± 10,4

Peso (kg)

69,9 ± 12,0

Altura (m)

1,68 ± 0,1

IMC (kg/m2)

24,9 ± 4,1

IMC: Índice de Massa Corporal.

 

Na Tabela 2 estão apresentadas características adicionais da amostra apresentadas de forma individual.

Tabela 2- Características de cada sujeito

Sujeito

Tumor Primário

EC

Tratamento

Comorbidades

1

Adenocarcinoma de próstata

IV

Qt

HAS, tabagismo

2

CEC de pulmão

III B

Qt + Rxt

DM, tabagismo

3

CEC de laringe supraglótica

IVC

Qt + Rxt

Nega

4

CDI de mama

III B

Rxt + Ht

Nega

5

CEC de laringe

IV

Qt

HAS, tabagismo

6

CEC de língua

III

Qt + Rxt

DPOC, tabagismo

7

Mieloma múltiplo

 

Qt

Tabagismo

8

Leucemia mielóide crônica

 

Qt

HAS

9

CEC de língua

IV

Qt + Rxt

Tabagismo + etilismo

10

CEC laringe

IVb

Qt + Rxt

Tabagismo

11

CEC de Orofaringe

IV

Qt + Rxt

Tabagismo + etilismo

EC: estadio clínico; CEC: carcinoma espinocelular; CDI: carcinoma ductal invasor; Qt: quimioterapia; Ht: hormonioterapia; Rxt: radioterapia; HAS: hipertensão arterial sistêmica; DM: diabetes melittus

 

A Tabela 3 apresenta os valores de média e DP das variáveis coletadas durante a realização do protocolo de endurance no primeiro e no décimo atendimento, bem como os valores de pdas comparações.

Tabela 3- Comparações entre o 1º e o 10º atendimento das variáveis do protocolo de endurance

Variáveis

Média ± DP

p

1º Atendimento

10º Atendimento

 

 

 

 

 

1º Min

FC (bpm)

74,4 ± 32,8

85,4 ± 22,9

0,293¹

SpO2 (%)

94,4 ± 7,5

96,2 ± 3,9

0,812²

BORG

2,1 ± 3,3

1,1 ± 3,0

0,066²

 

 

 

 

 

5º Min

FC (bpm)

81,0 ± 34,7

107,5 ± 21,1

0,029¹*

SpO2 (%)

90,2 ± 9,5

95,6 ± 3,4

0,045¹*

BORG

4,6 ± 4,1

2,1 ± 3,0

0,135²

 

 

 

 

 

10º Min

FC (bpm)

89,9 ± 27,0

99,4 ± 24,0

0,198¹

SpO2 (%)

94,1 ± 4,4

96,0 ± 3,7

0,422²

BORG

5,9 ± 4,2

3,5 ± 3,1

0,171²

 

 

 

 

 

Velocidade Inicial (km/h)

2,5 ± 1,0

4,4 ±1,0

0,001¹*

Velocidade Final (km/h)

3,1 ± 1,3

5,2 ± 1,2

0,000¹*

Distância Percorrida no 10º Min (m)

415,5 ± 238,2

664,5 ± 194,6

0,000¹*

Distância Percorrida em 6 Min (m)

293,6 ± 123,6

493,6 ± 136,0

0,000¹*

FC: frequência cardíaca; Min: minuto; SpO2: saturação periférica de oxigênio; ¹t de Student para Amostras Pareadas; ²Wilcoxon; *significância estatística (α=0,05)

 

Diferenças significantes estatisticamente foram observadas em oito das 13 variáveis analisadas:  FC no 5ºmin que no 10º atendimento apresentou uma média de 26,5bpm superior ao 1º atendimento; SpO2 no 5ºmin, cujo aumento médio foi de 5,4%; Velocidade Inicial e Velocidade Final, com aumento médio de 1,9km/h e 2,1km/h, respectivamente; Distância Percorrida no 10º Min, com aumento médio de 249m e; Distância Percorrida em 6 min, que apesar de ter apresentado um aumento médio significativo de 200m, não atingiu a distância prevista, que era de 517,3 ± 125,3m.

 

A comparação dos dados do TC-6 (distância percorrida), espirometria, cirtometria e da velocidade máxima alcançada nos momentos pré e pós intervenção estão apresentados na Tabela 4 com os respectivos valores de p.

Tabela 4- Comparação dos dados de espirometria, cirtometria e VMA antes e após a aplicação do protocolo

Variáveis

Média ± DP

p

Pré

Pós

TC-6 (m)

 

291,8 ± 111,3

509,1 ± 156,5

0,001¹*

 

 

 

 

 

Espirometria (%)

VEF1

73,5 ± 20,3

72,5 ± 18,5

0,862¹

CVF

75,9 ± 20,5

75,4 ± 20,5

0,909¹

VEF1/CVF

76,7 ± 14,1

79,4 ± 13,3

0,567¹

VVM

58,6 ± 22,4

59,1 ± 19,0

0,860¹

 

 

 

 

 

Manovacuometria (cmH2O)

PiMáx

37,3 ± 21,0

52,7 ± 18,5

0,008²*

PeMáx

35,5 ± 36,2

50,9 ± 24,3

0,033²*

 

 

 

 

 

Coeficiente Axilar (cm)

Repouso

96,8 ± 7,3

97,0 ± 7,7

0,787¹

Inspiração Máxima

100,1 ± 6,7

102,0 ± 8,8

0,266¹

Expiração Máxima

95,0 ± 7,4

93,7 ± 8,5

0,307¹

 

 

 

 

 

Coeficiente do Apêndice Xifóide (cm)

Repouso

97,3 ± 11,0

97,0 ± 10,3

0,635¹

Inspiração Máxima

100,0 ± 11,5

102,0 ± 10,3

0,125¹

Expiração Máxima

96,0 ± 10,6

93,8 ± 11,1

0,008¹*

 

 

 

 

 

Coeficiente Abdominal (cm)

Repouso

91,4 ± 12,9

90,7 ± 13,6

0,153¹

Inspiração Máxima

95,8 ± 14,0

96,0 ± 13,4

0,915¹

Expiração Máxima

88,9 ± 12,3

90,0 ± 11,8

0,523¹

 

 

 

 

 

Velocidade Máxima Alcançada (km/h)

3,0 ± 1,2

5,2 ± 1,2

0,003²*

CVF: Capacidade Vital Forçada; VEF1: Volume Expiratório Forçado no 1ºs; VVM: Ventilação Voluntária Máxima; PiMáx: Pressão Inspiratória Máxima; PeMáx: Pressão Expiratória Máxima; ¹t de Student para Amostras Pareadas; ²Wilcoxon; *significância estatística (α=0,05).

 

Aumentos significativos entre os momentos pré e pós intervenção foram observados para o Coeficiente do Apêndice Xifóide durante a Expiração Máxima, que apresentou uma diferença média de 2,2cm; para a Velocidade Máxima Alcançada, cujo aumento médio foi de 2,2km/h; para a PiMáx e PeMáx, ambas com aumento médio de 15,4cmH2O e; para a distância percorrida no TC-6, que apesar de ter apresentado um aumento de 217,3m, não atingiu a média predita que era de 551,4 ± 96,9m.

 

DISCUSSÃO

O objetivo do presente estudo foi avaliar a capacidade cardiorrespiratória de pacientes oncológicos em quimioterapia/radioterapia após a realização de um protocolo de endurance, além de apresentar o protocolo proposto com metodologia bem detalhada, tendo em vista a falta de padronização nos protocolos rastreados na literatura durante o levantamento bibliográfico.  O perfil oncológico dos participantes foi bem variado, com tumores primários em diferentes sítios, bem como diferentes estadios clínicos, porém todos deveriam estar em tratamento clínico, visto os impactos que o tratamento, e o próprio câncer, causam sobre o condicionamento cardiorrespiratório desses pacientes.

A distância média percorrida no TC-6 na avaliação inicial foi de 291.8m, 65,5% inferior à média encontrada por Figueiredo et al. (2009) para pneumopatas crônicos, com idade média próxima aos participantes do presente estudo. No estudo citado, os participantes realizaram oito semanas de treino em esteira, três vezes por semana, composto por 8 min. de aquecimento, 20min de treino efetivo e 5 min. de desaquecimento. Apesar do número de atendimentos e duração terem sido superiores ao protocolo proposto nesta pesquisa (10 atendimentos, 5 vezes por semana, com duração de 10min), os participantes do presente estudo apresentaram um aumento médio significativo de 217.3m, ao passo que no estudo citado foi de 120.1m. Uma possível justificativa pode estar relacionada à metodologia de incremento de velocidade na esteira.          No estudo de Figueiredo os participantes iniciavam o treino com velocidade inicial de 85% da média do TC-6, porém essa velocidade só foi incrementada uma vez, na quarta semana. Já na presente pesquisa, apesar da distância ter sido inferior (60%), os incrementos foram realizados em todos os atendimentos, a fim de alcançar, ao final dos dez atendimentos, a distância predita inicialmente pelo TC6 de cada paciente.

O estudo de Reis et al (2012) avaliou a fadiga de 44 pacientes oncológicos por meio da escala de Piper-revisada, e a capacidade funcional por meio do TC6, antes e após a implementação de um protocolo com exercícios aeróbios, de resistência e de flexibilidade durante 4 meses consecutivos. Eles foram divididos em dois grupos: grupo A, o qual foi submetido somente aos exercícios aeróbicos; e grupo B, o qual dispôs de exercícios aeróbicos associados ao treino de resistência e flexibilidade. Ambos os grupos mostraram melhora estatisticamente significativa nos níveis de funcionalidade e de fadiga, sendo que houve melhora estatisticamente significativa nos níveis de funcionalidade no grupo submetido à exercícios aeróbicos (aumento médio de 73,05 m no TC6) e melhora da fadiga (de 5 para 3 na Escala de Piper-revisada). Os achados de funcionalidade também corroboram com os achados do presente estudo. Dessa forma, os autores concluíram que o exercício físico pode ser útil na reabilitação de pacientes oncológicos, principalmente naqueles com queixa de fadiga, e sugerem que o exercício é um método promissor e efetivo para o tratamento da fadiga oncológica, além de ser capaz de melhorar a qualidade de vida de pacientes oncológicos.

Houve, também, incremento nos valores médios da relação VEF1/CVF da prova de função pulmonar pré e pós intervenção (76,7% e 79,4%, respectivamente), e do valor de VVM (58,6% para 59.1%). Ao contrário do esperado, ainda, houve declínio do VEF1 (de 73,5% para 72,5%) e do valor de CVF (de 75,9% para 75,4%). Em nenhum dos casos, porém, o resultado foi estatisticamente significativo. Tal declínio, no entanto, pode ser justificado pelo fato de os pacientes se encontrarem em diferentes etapas do tratamento antineoplásico durante a aplicação do protocolo, de modo que alguns iniciaram o protocolo com uma performance status aceitável, ao passo que a perda de peso, hiporexia, e outros fatores inerentes ao tratamento interferiram na performance durante o estudo. No estudo de Miglani e Arora (2011), 35 pacientes oncológicos realizaram espirometria em três momentos: antes de iniciar o tratamento, 3-4 semanas após o primeiro ciclo do tratamento e 3-4 semanas após o segundo ciclo do tratamento. Não houve intervenção fisioterapêutica nesses pacientes, porém, pôde ser notado o declínio nos valores espirométricos, de modo que a relação VEF1/CVF teve tendência a favor de um padrão restritivo para desordens pulmonares. Segundo os autores, a toxicidade resultante da quimioterapia causa reação inflamatória no parênquima pulmonar, e a exposição crônica ao quimioterápico gera alterações teciduais que dificultam a troca gasosa, aumentam o trabalho ventilatório e reduzem o volume funcional, levando ao padrão ventilatório restritivo.

No estudo de Villani et al (2009), 126 pacientes com doença de Hodgkin submetidos à quimioterapia sistêmica e à radioterapia mediastinal, e com acompanhamento por 5 anos, tiveram sua função pulmonar avaliada por meio da espirometria, e a radiografia foi usada para verificar a extensão do dano da toxicidade do tratamento. Os pacientes foram divididos em três grupos, de acordo com os quimioterápicos utilizados (VEBEP para grupo 1, ABVD no grupo 2 e MOPP-ABVD no grupo 3), e todos foram submetidos à radioterapia. Nos três grupos, houve produção subclínica de toxicidade pulmonar evidenciada nas radiografias, e no grupo 1, a espirometria estava normal, sugerindo que o tipo de quimioterápico interfere na função pulmonar. Essa correlação não foi realizada no presente estudo, visto que o tipo de quimioterápico e a localização tumoral não foi padronizada para fins de inclusão na amostra.

Com relação à manovacuometria, pôde ser notado um aumento estatisticamente significativo na pressão inspiratória máxima (PiMáx) antes e ao final das dez intervenções, partindo de 37,3 para 52,7cmH2O. Isso também ocorreu nos valores de pressão expiratória máxima (PeMáx), cujo valor médio aumentou de 35,5 para 50,9 cmH2O. Poucos são os achados na literatura que comparam a Pimáx e a Pemáx de pacientes oncológicos submetidos a algum treino aeróbio durante o período de tratamento antineoplásico. Os achados mais comuns em população oncológica são daqueles submetidas à alguma intervenção cirúrgica, comparando-se, então, os valores de manovacuometria no pré e no pós operatório. No entanto, em estudos com pacientes não oncológicos, foram notados resultados que corroboram com os achados desta pesquisa. Rossi e Silva et al (2013) compararam os valores de Pimáx e Pemáx em pacientes nefropatas em hemodiálise, submetidos à um programa de exercícios de 40 minutos, três vezes por semana, durante 8 semanas, e notaram aumento significativo na Pimáx após a intervenção (de 68,92 para 95,18 cmH2O). A PeMáx no estudo em questão também mostrou aumento, porém não significativo. Dessa forma, a prática de exercícios físicos, mesmo sendo de intensidade leve a moderada, pode exercer influência sobre as capacidades e perfusões pulmonares, justificando os aumentos de PiMáx e PeMáx observados (BEZERRA, SANTOS-JUNIOR, CAMPOS, 2012).

Durante o teste de caminhada de seis minutos, a FC e SpO2 foram avaliadas por meio de um oxímetro digital, e ambas apresentaram diferenças significantes estatisticamente durante o 5º minuto, entre o 1º e o 10º atendimento. A FC apresentou uma elevação de 26,5bpm (81,0 ± 34,7 vs 107,5 ± 21,1. Esse aumento no valor médio da FC também foi encontrado no estudo realizado por Moreira et al (2001), o qual teve como objetivo avaliar por meio do TC6 os pacientes DPOC durante um programa de reabilitação que envolvia treinamento aeróbico na esteira com velocidade de 60% daquela atingida no teste de incremental (TC6). Nesse caso, o treinamento foi constituído de 12 semanas com sessões 3x por semana, sendo eles 18 homens e 5 mulheres. Durante o teste, os pacientes eram monitorizados por meio da FC, pressão arterial sistêmica (PAS) e SpO2. Ao chegar ao final do treino aeróbico, os pacientes foram reavaliados e apresentaram um aumento significativo de 9,4 bpm na FC (Pré 107,1 e Pós 116,5). Embora fosse esperada uma diminuição da FC média ao final dos atendimentos, sugestiva de ganho de condicionamento cardiopulmonar, os autores justificam essa elevação devido ao grau de esforço realizado pelo paciente para se atingir distâncias cada vez maiores no teste. Com relação à SpO2, no estudo em questão, não houve aumento significativo, ao contrário dessa presente pesquisa, que mostrou um aumento médio de 5,4%.

Por fim, a cirtometria mostrou diminuição estatisticamente significativa do valor da variável expiração máxima do coeficiente de amplitude xifoideana (de 96 cm para 93.8 cm), e diminuição não significativa da expiração máxima no coeficiente abdominal (de 95 para 93.7cm). Ainda, houve aumento não significativo das amplitudes durante a inspiração máxima nos coeficientes axilar (100.1 para 102 cm), apêndice xifoide (100 para 102 cm) e abdominal (95.8 para 96 cm).          No estudo de Bezerra, Santos-Junior e Campos (3), 50 adultos jovens (25 do sexo masculino e 25 do sexo feminino) foram avaliados quanto à perimetria toraco-abdominal e força muscular respiratória, por meio da cirtometria e manovacuometria, respectivamente. Quando comparados quanto à prática ou não de atividade física, houve maior diferença do coeficiente de amplitude xifoideana nos indivíduos fisicamente ativos, demonstrando uma maior mobilidade torácica nesses indivíduos, e foi encontrada uma maior diferença no valor do coeficiente de amplitude xifoideana nos indivíduos fisicamente ativos, quando comparados com indivíduos sedentários, demonstrando uma maior mobilidade torácica neles. Os autores sugerem que a prática regular de atividade física exerce influência sobre as propriedades mecânicas do sistema respiratório, e, portanto, pode gerar modificações na configuração tóraco-abdominal e nos componentes do padrão respiratório. Isso também justifica o aumento (embora não significativo) da cirtometria nos três coeficientes durante a inspiração máxima do presente estudo.

Já a diminuição do valor cirtométrico do CAxif pode, também, ser justificada pela perda de peso decorrente do tratamento antineoplásico. As alterações metabólicas encontradas nos pacientes com câncer atreladas aos efeitos colaterais produzidos pelo tratamento tradicional também promovem um ciclo vicioso de perda de massa muscular e diminuição nos níveis de atividade física, resultando em aumento nos níveis de fadiga e fraqueza generalizada (2). Neste estudo, no entanto, o IMC ao final do tratamento não foi uma das variáveis coletadas, não podendo ser correlacionada a provável perda de peso ao declínio cirtométrico. No entanto, sugere-se que em um próximo estudo, essas variáveis sejam consideradas a fim de correlacionar com a literatura.

 

CONCLUSÃO

Tendo em vista a falta de padronização, na literatura, dos protocolos para treino cardiopulmonar de pacientes oncológicos em tratamento antineoplásico, esse estudo mostrou que o protocolo em questão foi capaz de melhorar, significativamente, a velocidade inicial e ao final dos atendimentos, a velocidade máxima alcançada durante as intervenções, os valores de Pimáx e Pemáx, e a distância percorrida tanto no 6º quanto no 10º minuto de caminhada. Desse modo, esse protocolo pode ser utilizado nessa população para melhora da performance cardiopulmonar, e salienta a importância da manutenção da atividade física durante o tratamento quimioterápico ou radioterápico, a fim de evitar a perda de massa muscular e dos volumes e capacidades pulmonares.

 

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- Publicado em Janeiro/2020

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